Já foram validados mais de 300 testemunhos de abusos sexuais na Igreja

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Daniel Sampaio, integra o grupo de trabalho, revelou o número de testemunhos na TSF. O médico reconhece que há “pessoas que querem silenciar as vítimas”.

A comissão criada para investigar os abusos sexuais cometidos por membros da igreja católica portuguesa nos últimos 70 anos já validou mais de 300 testemunhos.

“Ultrapassamos os 300 testemunhos validados através de telefonemas e inquéritos para o nosso telefone e email”, adiantou Daniel Sampaio, no programa da TSF “Só Entre Nós”, conduzido por Luís Osório.

O psiquiatra admite que, apesar das queixas, há muitas pessoas que foram abusadas sexualmente na igreja católica que ainda não testemunharam, considerando que este “é um assunto muito difícil“.

“O que nós temos verificado é que este é um assunto muito difícil. Sou psiquiatra há 45 anos, ao longo da minha vida profissional lidei com muitas situações de abuso, particularmente abuso dentro da família, que é o mais frequente, sempre foi um tema difícil para a própria psiquiatria, mas não tinha a noção como era um tema muito difícil para a sociedade civil, ou seja, as pessoas não gostam de falar deste tema. E como não se fala deste tema, as pessoas são deixadas ao abandono”, lamenta, acrescentando que “é preciso fazer muito mais“.

Daniel Sampaio afirma que as vítimas “foram deixadas sozinhas durante décadas, não falaram da sua situação de abuso e quando falaram não foram validadas”.

“Só esta situação da não validação do relato de uma vítima, é em si própria, uma situação traumática”, explica, admitindo a sua surpresa.

“Isto chocou-me e surpreendeu-me. Sabia que isto é uma realidade muito escondida, um fenómeno muito ocultado, mas não tinha a dimensão de como é difícil falar em diversos contextos sobre esta situação”, salienta.

Daniel Sampaio reconhece ainda que há vítimas que estão a ser pressionadas para continuarem em silêncio.

“Há constrangimentos das vítimas, que não querem falar do assunto, e constrangimentos externos de pessoas que querem silenciar as vítimas“, alerta, voltando a pedir empenho na denúncia dos abusos.

O psiquiatra admite também que todo o fenómeno do abuso sexual “encontra resistência”, algo transversal aos crimes cometidos por membros da igreja católica.

“Se o fenómeno da ocultação é transversal a toda a situação de abuso sexual, também é o da igreja”, assegura.

Daniel Sampaio revela ainda que há vítimas que se queixaram a sacerdotes e a bispos e essas pessoas “deixaram a queixa morrer“.

“Também temos casos de padres que foram identificados pelas vítimas como abusadores e foram transferidos. É uma situação que me preocupa muito porque podem eventualmente continuar o seu problema abusador noutro lugar. Enviámos 16 casos para o Ministério Público”, sublinhou.

A comissão continua a receber denúncias e testemunhos de abusos sexuais no seio da Igreja Católica em darvozaosilencio.org.

ZAP //

1 Comment

  1. Durante a Guerra Colonial, era hábito na província, os jovens soldados casados (que iam combater para África) “entregarem” as esposas ao “cuidado” do padre da aldeia. E na verdade ficavam bem entregues… Pois aconteciam milagres: mesmo com o marido fora, as raparigas apareciam grávidas!

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