Uma substância alucinógena presente em cogumelos mostrou-se promissora como possível tratamento para a depressão.
O estudo de curta duração realizado com um pequeno número de voluntários foi feito pelo Imperial College de Londres e publicado na revista especializada The Lancet Psychiatry.
O componente que causa alucinações, a psilocibina – presente nos chamados “cogumelos mágicos” – foi testado num grupo de 12 pacientes, nove dos quais sofriam de depressão aguda e três tinham uma forma mais moderada da doença.
Num dos pacientes, os sintomas já duravam há 30 anos. Todos já tinham tentado pelo menos dois tratamentos diferentes para depressão e não conseguiram melhorar, e um já tinha mesmo tentado 11 tratamentos diversos.
Inicialmente, por razões de segurança, os investigadores deram aos voluntários uma dose baixa de psilocibina. Em seguida, estes receberam uma dose alta, equivalente a “vários cogumelos”, segundo os investigadores.
A experiência psicadélica durou até seis horas, chegando ao seu auge após as primeiras duas horas. Tudo teve o acompanhamento de música clássica e também de apoio psicológico.
Depois da experiência “mística e espiritual” induzida pela substância, oito pacientes já não estavam mais deprimidos.
“Estas experiências com a psilocibina podem ser incrivelmente profundas, às vezes as pessoas têm o que descrevem como experiências místicas ou espirituais”, afirmou Robin Carhart-Harris, um dos investigadores.
“Lubrificante da mente”
Durante a experiência, foram observados efeitos colaterais em grau moderado como ansiedade, confusão, náuseas e dor de cabeça.
Uma semana após a “viagem”, os investigadores observaram uma redução “marcante” nos sintomas de depressão, como ansiedade e anedonia (perda de capacidade de sentir prazer).
“Precisamos de testes mais alargados para compreender se os efeitos que vimos neste estudo podem transformar-se em benefícios a longo prazo”, acrescentou.
David Nutt, outro investigador do Imperial College que participou no estudo, afirmou que os pensamentos de uma pessoa que sofre de depressão podem ficar presos na negatividade e ser extremamente autocríticos.
Nutt afirmou que a psicilobina, neste caso, agiu como uma espécie de “lubrificante da mente” que “libertava” o paciente.
O investigador explica que o composto age sobre os receptores do cérebro que normalmente reagiam à serotonina, hormona ligada ao humor.
Sem placebo
No entanto, não se pode afirmar que o resultado da pesquisa do Imperial College de Londres é claro, já que o número de pessoas envolvidas foi muito pequeno e não houve um grupo de controlo, ou seja, um conjunto de voluntários a tomar placebos (comprimidos sem efeito), necessários em testes robustos.
Questionados pela BBC, os investigadores admitem que “é possível” que toda a melhoria tenha ocorrido por “sugestão” semelhante ao efeito placebo, mas a duração dos efeitos positivos e a mudança na perspectiva dos pacientes sugere que não foi o caso – e que de facto a psilocibina teve um papel determinante nos resultados.
Robin Carhart-Harris afirmou que esta “não é uma cura mágica, não deveríamos deduzir demais” e aguardar por testes mais amplos da substância.
David Nutt, por sua vez, afirmou que o simples facto de conseguir realizar a experiência com a substância alucinógena já foi um marco, aproveitando para criticar as restrições “kafkianas” que dificultaram a pesquisa, refere a revista Nature.
Nutt, que foi demitido do governo britânico onde trabalhava como assessor para orientação em relação às drogas devido às suas opiniões, disse que a burocracia do governo britânico fez com que “o custo para dar uma dose a cada paciente fosse de 1.500 libras (cerca de 1.950 euros), quando em qualquer situação mais sensata teria custado 30 libras (cerca de 40 euros)”.
“A observação mais importante que pode eventualmente justificar o uso de uma droga como a psilocibina para casos de depressão resistente a tratamentos é a demonstração benefícios duradouros em pacientes que anteriormente enfrentaram anos de sintomas, apesar dos tratamentos convencionais, e isto torna os resultados de longo prazo particularmente importantes”, afirmou Philip Cowen, da Universidade de Oxford.
“Os dados do período de três meses de acompanhamento, um período comparativamente curto em pacientes com doenças de longa duração, são promissores, mas não são completamente convincentes”, acrescentou.
ZAP / BBC
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