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Clientes denunciam subida dos preços antes da redução do IVA. Queda da inflação não se sente

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Portugal foi o país da Zona Euro onde os preços mais subiram durante o mês de março.

Ao longo dos últimos dias, as redes sociais encheram-se de registos fotográficos efetuados por consumidores que tentam escrutinar a evolução dos preços. O foco recai sobre os produtos que integram o cabaz de 44 bens essenciais definidos pelo Governo para sofrerem a isenção de IVA.

Exemplo disso é uma imagem com dois recibos do Pingo Doce, num supermercado de Barcelos, referentes à compra do mesmo produto mas com uma semana de intervalo. A 18 de março, o preço era de 2.87 euros, ao passo que a 25 de março era de 3.29 euros. O mesmo fenómeno aconteceu com o preço do fiambre da marca Económico, na mesma cadeia, mas num estabelecimento de Queluz.

Perante estes exemplos, o Pingo Doce alegou que a subida dos preços se justificava com os efeitos da inflação, comprometendo-se novamente com a descida do IVA no preço de venda. Para já, os produtos que surgem em muitas das imagens de comprovativos de compra não integram o grupo definido pelo Governo, com a DECO a afirmar que “não há nenhum indício de isto estar a acontecer”.

À CNN Portugal, Rita Rodrigues, porta-voz da Defesa do Cosumidor, ressalvava que, apesar da redução do IVA para 0% e do pacto de estabilização, ainda se podem verificar subidas nos preços por outros motivos, por exemplo, os custos da matéria prima e produção. “O primeiro-ministro disse de uma forma muito clara que este pacto é definido com base na boa-fé e, nesse sentido, acreditando que estejam todos de boa-fé, mas também acreditando nas análises do consumidor, devemos estar atentos.”

Há várias semanas que a DECO faz uma monitorização dos preços do cabaz alimentar semanal, o qual se manteve estável na última comparação do último valor de referência. O mesmo grupo de 63 alimentos essenciais tem agora um preço de 225, 99 euros.

Queda da inflação não se reflete

Esta sexta-feira, o Instituto Nacional de Estatística divulgou que a taxa de inflação — o Índice de Preços no Consumidor — caiu em março para 7,4%, menos 0,8 pontos percentuais face ao mês de fevereiro. No entanto, tal não é o mesmo que dizer que os preços caíram. Tal como destaca o Jornal de Notícias, verifica-se apenas desaceleração no crescimento.

“Esta desaceleração é em parte explicada pelo efeito de base resultante do aumento de preços dos combustíveis e dos produtos alimentares, verificando em março de 2022″, descreveu o INE. De facto, este é um dado importante, se se considerar que o mês de março do ano passado foi o primeiro impactado pelos efeitos da guerra na Ucrânia, nomeadamente a subida dos bens alimentares e da energia.

Portugal foi o país onde os preços mais subiram

Apesar da desaceleração descrita, Portugal foi o país da Zona Euro onde os preços mais cresceram durante o mês de março. Tal fenómeno explica-se, primeiro, com o maior peso dos produtos alimentares no cabaz de compras dos portugueses, mas também com o alastramento das pressões inflacionistas a outros bens e serviços, descreve o Público.

Segundo o Eurostat, a inflação mensal em Portugal foi de 2%, ao passo que no resto da Zona Euro os preços subiram de forma menos acentuada: 0,9%. O país que se segue é a Grécia, com 1,6%.

De acordo com a mesma fonte, em Portugal registou-se um valor mais alto em termos mensais do que os verificados na inflação subjacente, ou seja, a taxa de inflação mas sem a análise dos bens com preços mais voláteis: os energéticos e os alimentares. Estes dois setores foram os primeiros onde os o impacto da guerra da Ucrânia se refletiu, mas rapidamente se notou um contágio, sobretudo no que respeita à energia devido à importância que tem na cadeia de produção e estrutura de custos.

Assim se explica que, numa altura em que se verifica um recuo da taxa de inflação homóloga total, a taxa de inflação subjacente continue a subir.

Em março, a variação mensal dos preços dos bens e serviços excluindo os alimentos não-transformados e produtos energéticos foi, na zona euro, de 1,2%, mas em Portugal fixou-se nos 2%.

Ana Rita Moutinho, ZAP //

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16 Comments

  1. As pessoas baralham a redução da inflação com a deflação. A redução da inflação significa que os preços continuam a subir embora a uma taxa mais pequena. Não significa que os preços estejam a reduzir (deflação).

    • A taxa de inflação é uma média. Alguns produtos podem descer enquanto bens alimentares podem aumentar de preço. É preciso compreender isto.

      • É a variação de preços de um cabaz de produtos para sermos mais corretos. Mas está correto quando refere que alguns podem subir e outros descer.

  2. É simples, começarmos a comprar muito menos e assim quer o ‘Pingo Doce’ quer o ‘Continente’ e demais super, começarão a diminuir os preços de imediato pq ele não querem perder clientes para as frutarias e afins

    • Eu já fiz boicote ao Mini Preço que é dos que está a vender mais caro. Dos outros tenho reduzido as compras mas tenho que comer senão morro. Compro onde é mais barato. Pouca gente aguenta estes aumentos brutais

    • Qual guerra da Ucrânia? É mas é a ganância, para não dizer vigarice, das superfícies comerciais. A guerra parece que justifica tudo. Abre os olhos.

      • É facto que os preços subiram após a guerra na Ucrânia, ou pelo menos serviu de desculpa. Na época da pseudo austeridade e também do Covid, serviram de desculpa para o mesmo. Resta saber qual será a próxima desculpa. Uma coisa é certa, cada vez estamos pior. Os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres.

        • Parece que anda tudo meio tolo. Na sequência do início da guerra da Ucrânia uma empresa do setor agrícola (comercialização de fruta com grandes arcas de frio) que gastava por mês 50 mil euros de eletricidade passou a gastar 160 mil euros!!!! Queriam que a fruta ficasse ao mesmo preço?!?!? E estou a falar apenas de eletricidade. Os combustíveis, indispensáveis para a distribuição também aumentaram imenso como todos sabem. Acho que é preciso algum bom senso. E depois há dados que desmentem por completo a ideia que a distribuição se aproveitou. Em 2022 os preços subiram mais no produtor do que no consumidor. Como é que isto é possível se dizem que a distribuição se aproveitou? Basta pensar um pouco para saber que isso é impossível. E isto são estatísticas oficiais. Não são conversa de café ou tasca.

  3. O governo, em vez da descida do IVA de alguns produtos, deveria ter optado por instituir um valor máximo para qualquer um, de toda a gama de bens alimentares. Ao limitarem-se as margens dos produtos de 0% de IVA, está a dar-se a oportunidade aos distribuidores para que tenham espaço de manobra para, em todos os outros sem isenção de IVA, estabelecerem aumentos mais expressivos das margens de comercialização.

  4. De boa fé está o Inferno cheio. Coitados dos consumidores que são roubados a torto e a direito por tudo e por todos. Este país sem lei já bateu no fundo.

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