Dois gestos de Cla(ri)sse que ficam para a memória olímpica

Rungroj Yongrit / EPA

Clarisse Agbégnénou foi campeã olímpica no judo, pela primeira vez – mas a atitude que demonstrou, mal venceu a final, ficará também nos registos.

Campeã mundial cinco vezes, mais duas medalhas de prata. Cinco medalhas em Mundiais por seleções. Quatro vezes campeã da Europa, mais uma medalha de bronze. Quatro medalhas em Europeus por seleções nacionais. Faltava o título olímpico para Clarisse Agbégnénou, que chegou à final em 2016, no Rio de Janeiro, mas foi derrotada. Faltava.

Na manhã desta terça-feira, em Tóquio, a judoca francesa conseguiu a medalha de ouro na categoria -63kg, ao vencer Tina Trstenjak por waza-ari, já na fase de “ponto de ouro”. Há cinco anos, na edição anterior dos Jogos Olímpicos, o desfecho da final tinha sido inverso: a eslovena Tina tinha vencido Clarisse.

Apesar de estar (muito) habituada a vencer as competições mais importantes, Clarisse juntou-se à lista de atletas emocionadas em Jogos Olímpicos. Chorou, voltou a chorar e nem conseguia controlar a própria postura corporal.

No entanto, dois gestos salientaram-se. Mal executou o waza-ari sobre a sua adversária, Clarisse ficou no chão e cinco segundos depois, e ainda no chão, abraçou a eslovena. Duas vezes. As duas últimas campeãs olímpicas ficaram abraçadas no chão.

As regras mandam que as judocas se levantem e voltem à posição inicial, para o combate ser fechado oficialmente. E, quando se cumprimentaram após esse protocolo, a francesa voltou a abraçar a adversária duas vezes e, pelo meio, pegou Tina pelas pernas e levantou (literalmente) a judoca derrotada, deixando a ideia de que a eslovena também é de topo e que também merecia o ouro – um gesto de respeito e de reconhecimento que deixou a própria Tina algo emocionada.

Ao jornal Libération, Clarisse Agbégnénou falou sobre os valores no desporto e sobre a amizade que tem com Tina Trstenjak: “É nestes momentos que vês que no desporto existem valores. Estamos a lutar no tatame, todos queremos a medalha, mas existem valores. A Tina é uma amiga. E prometi-lhe que em breve irei visitá-la na Eslovénia para passarmos um tempo juntas”.

Nuno Teixeira, ZAP //

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