Médicos alertam para o facto de os resultados da cirurgia se tornarem distintos com o passar dos anos, sobretudo na velhice.
Esta semana, a atriz e cantora Lea Michele, conhecida pelo seu papel na série Glee, publicou uma série de selfies no seu Instagram que despertou inúmeros comentários. No centro da questão estava o aspeto particularmente diferente do que lhe era conhecido: mais esguio, com as suas maçãs do rosto cortadas diagonalmente para baixo para criar um aspeto oco, semelhante ao da modelo Bella Hadid.
As fotografias desencadearam uma onda de críticas no Twitter, com muitos internautas a especularem que a estrela tinha sido submetida a uma cirurgia de remoção de gordura bucal, um procedimento cosmético que remove um bloco de gordura natural da zona inferior da bochecha, de modo a dar ao rosto uma aparência de emagrecimento.
“A cirurgia já existe há muitos anos, mas com o advento dos meios de comunicação social, penso que se notou realmente um ressurgimento e popularidade”, sintetizou o cirurgião plástico Ira Savetsky e autor do estudo The Role of the Buccal Fat Pad in Facial Aesthetic Surgery, publicado em 2021, ao The Daily Beast. “A razão pela qual a remoção do bloco adiposo bucal é tão popular é porque a linha do maxilar se tornou realmente popular.”
Os homens representam aproximadamente um quarto dos potenciais pacientes interessados na remoção de gordura bucal, apontou Richard Swift, um cirurgião plástico sediado em Nova Iorque. “Já tive homens que querem ter caras mais definidas, já tive modelos que me procuraram por isso mesmo”.
Tal como as injeções labiais de Kylie Jenner (irmã mais nova de Kim Kardashian), a remoção de gordura bucal gerou repercussões na internet, onde estas celebridades são seguidas por mulheres muito jovens que acompanham as suas carreiras e percursos. O procedimento demora cerca 20 minutos a ser completado com anestesia local e geralmente custa aos pacientes cerca de 5.000 dólares.
“A almofada de gordura bucal é anterior, ou em direção à frente da face inferior acima do maxilar”, disse Savetsky. “A remoção da almofada de gordura bucal dá às pessoas aquela sombra ou aquela face inferior realmente fina, e é um procedimento relativamente fácil”.
“O inconveniente é que do ponto de vista estético, a gordura facial é muito preciosa, e aprendemos com os estudos de anatomia e com o estudo da forma como as pessoas envelhecem que à medida que envelhecemos perdemos gordura na face”, explicou Savetsky.
“Se se trata de alguém que tem bochechas gordas, isso é um bom paciente porque está a remover o excesso e a deixá-lo com uma quantidade relativamente normal de gordura bucal”. Mas se efetuar o procedimento em alguém que não tenha excesso de gordura bucal ou se remover demasiada gordura, enquanto pode ficar bem nos seus vinte e trinta e poucos anos, à medida que envelhecer e perder mais gordura na cara, vai parecer demasiado oco à medida que envelhecer”.
“De cada cinco pessoas que entram no meu gabinete que o querem, provavelmente apenas uma é um bom candidato para ele”, disse o Dr. Savetsky.
A crescente ubiquidade do procedimento dentro do léxico cultural também provocou uma onda de reações negativas entre os frustrados com a normalização da cirurgia plástica acessível. “Fiquei francamente surpreendida com o facto de a cultura popular incentivar a cirurgia plástica de forma tão entusiasta ao mesmo tempo que trabalhamos alguns dos aspetos problemáticos da cultura alimentar”, disse a especialista em beleza Jessica DeFino.
“Nos últimos anos temos vindo a defender este ideal inatingível de beleza no lugar da cultura da dieta, que preparou o terreno para que a cultura da dieta voltasse e fosse reformulada como empoderamento ativo e autonomia corporal. Agora estamos a ver estas coisas colidirem no procedimento de remoção de gordura bucal, que está em última análise a glorificar um ideal capitalista e fato-fóbico de beleza inatingível”.
No passado mês de setembro, a modelo e apresentadora Chrissy Teigen também divulgou no seu Instagram que tinha recorrido ao procedimento, surgindo sem as suas famosas bochechas redondas e cheias.
Diamond disse ao The Daily Beast que tem vindo a realizar reduções de gordura bucal desde 1997, mas “por volta dos anos 2010 ou 2012, as pessoas começaram a comercializar a os resultados da cirurgia no Instagram e nos seus meios de comunicação social, quando este material se começou a tornar popular…. De repente, via-se estes médicos mais jovens a promover o procedimento”.
Tal como muitas pessoas recorrem a fotografias de mulheres famosas para explicar nos salões de cabeleireiro qual o corte de cabelo que pretendem replicar, há ainda quem se dirija aos cirurgiões na esperança de se parecerem com outras pessoas famosas, mas após a operação.
No TikTok, vídeos com centenas de milhares de visualizações documentam mulheres no início e meados dos anos vinte a fazer viagens ao México para remoção de gordura bucal e procedimentos de lipoaspiração do queixo, surgindo com o que podem ser definidas como feições angulares felinas que remetem para os mais famosos influenciadores de beleza das redes sociais.
“Colocamos a magreza num pedestal, pelo que é lógico que algumas pessoas, e as mulheres em particular, acabem por gravitar em direção a procedimentos que imitam essa ideia”, resumiu Tamika Turner, que dirige a conta de cultura e a beleza no TikTok @prettycritical.