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Há mais de mil anos que a circulação do oceano Atlântico não para de enfraquecer

O sistema circulatório do oceano Atlântico está a ficar debilitado. Um dos maiores sistemas de correntes oceânicas do mundo enfraqueceu cerca de 15% nos últimos anos.

Duas equipas de cientistas analisaram um sistema de correntes oceânicas conhecido como circulação termoalina meridional do Atlântico (AMOC) e chegaram à conclusão de que está a enfraquecer.

No entanto, estes dois estudos, ambos publicados na Nature desta semana, diferem no que diz respeito à altura em que isso terá começado. Um deles conclui que a AMOC começou a ficar mais fraca logo a seguir à Pequena Idade do Gelo enquanto que o outro refere que isso só aconteceu a partir dos anos 50 graças ao aquecimento global.

A circulação do oceano Atlântico é fundamental na regulação do clima global e a AMOC é um dos maiores sistemas de correntes oceânicas do planeta. Em traços gerais, a AMOC é influenciada pela corrente do Golfo, águas quentes e pouco densas que viajam até às Caraíbas até às latitudes mais a norte, explica o Público.

É durante essa viagem que estas águas libertam calor na atmosfera e, consequentemente, aquecem a Europa ocidental. Em sentido contrário, estão as águas frias e salgadas do mar do Lavrador ou da Gronelândia, que são mais densas.

Estas águas, tanto as que vêm do sul como do norte, juntam-se e formam uma massa de água profunda no Atlântico Norte, formando assim a AMOC.

A equipa de David Thornalley, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole, nos Estados Unidos, analisou o tamanho de grãos sedimentares do fundo do oceano e concluiu que quanto maior é um grão, mais forte é a corrente. Usaram-se ainda outros métodos para reconstituir as temperaturas das águas superficiais nas regiões influenciadas pela AMOC.

“Ao combinarmos estes métodos, sugerimos que a AMOC tenha enfraquecido nos últimos 150 anos entre cerca de 15% e 20%“, diz Thornalley, num comunicado da sua instituição.

Pablo Ortega, da Universidade de Reading, no Reino Unido, acrescentou ao El País que “a AMOC enfraqueceu nos últimos 150 anos até níveis nunca registados em mais de um milénio. Esta diminuição foi muito rápida e continua a baixar, embora a um ritmo mais reduzido”.

(dr) NOAA

Mapa de temperaturas mostra o percurso da corrente do Golfo na Costa dos EUA

Entre os anos 400 e 1850, a intensidade da AMOC foi estável e durante a revolução industrial abrandou, concluíram os investigadores.

A AMOC terá começado a ficar mais fraca perto do fim da Pequena Idade do Gelo, entre 1300 e 1850. Os cientistas pensam que o Atlântico Norte terá começado a aquecer e que isso provocou o degelo de grandes camadas de gelo do Árctico.

Foi desta forma que se formou uma torneira de água doce no Atlântico Norte. “Este grande fluxo de água doce diluiu a superfície da água do mar, tornando-a mais leve e menos capaz de mergulhar em profundidade, abrandando o sistema da AMOC”, lê-se no comunicado.

A segunda equipa, liderada por Levke Caesar, da Universidade de Potsdam, na Alemanha, analisou dados de modelos climáticos e temperaturas da superfície do mar e concluiu que a AMOC abrandou cerca de 15% desde os anos 50, atribuindo às alterações climáticas a culpa.

“Com o aquecimento global, o aumento das chuvas assim como o degelo do Ártico e das camadas de gelo da Gronelândia diluem as águas do Norte do Atlântico, reduzindo a sua salinidade”, explicou ao jornal espanhol Alexander Robinson, da Universidade Complutense de Madrid, em Espanha, e um dos autores deste segundo trabalho.

“A água com menos sal é menos densa e, por isso, menos pesada, o que dificulta que mergulhe em profundidade”, acrescenta.

Num comentário aos dois artigos, Summer Praetorius, do Centro de Geologia, Minerais, Energia e Ciências Geofísicas, nos Estados Unidos, escreve que ambas as “estimativas do declínio são extremamente semelhantes, apesar dos diferentes períodos temporais em que são baseadas”.

Thornalley acrescentou que o que estes diferentes períodos de tempo têm em comum é o facto de serem ambos de aquecimento e de degelo. “É previsível que o aquecimento e o degelo continuem no futuro devido às emissões de dióxido de carbono”, conclui.

ZAP //

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