Cientistas portuguesas descobrem molécula eficaz no combate ao cancro

ZAP // FFUL / Molview / Envato Elements

Rita Acúrcio, Helena Florindo e Rita Guedes, investigadoras do IIM / FFUL

Um novo estudo permitiu identificar uma molécula capaz de estimular o sistema imunitário a combater vários tipos de cancro — uma descoberta que pode revolucionar a luta contra o cancro.

Uma equipa de investigadores, entre as quais três cientistas portuguesas, descobriu uma molécula capaz de estimular as próprias células imunológicas dos doentes a combater vários tipos de cancro.

A investigação surgiu no seguimento de estudos anteriores, que descobriram como libertar os “travões” do sistema imunitário, como as proteínas CTLA-4, PD-1 e PD-L1, que impedem a ação dos linfócitos T na luta contra o cancro.

Ao aplicar estas técnicas de bloqueio destas proteínas, a equipa comprovou a melhoria da resposta anti-tumoral de doentes com vários tipos de cancro, sem os efeitos colaterais graves, típicos dos tratamentos com quimioterapia.

Entre os autores do estudo, publicado no Journal for ImmunoTherapy of Cancer, encontram-se as investigadoras Rita Acúrcio, Rita Guedes e Helena Florindo, do Instituto de Investigação do Medicamento da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

Helena Florindo, professora da FFUL e autora correspondente do estudo, explicou à RFI o tipo de molécula que foi descoberta e sintetizada.

“Estamos a falar de uma molécula pequena, basicamente é um composto químico, como muitos outros que já existem que, no nosso caso, nós quisemos que fosse uma alternativa a anticorpos, que já são administrados em clínica, mas que têm um custo muito elevado e que são administrados por injecção”, começou por referir a cientista portuguesa.

H.Florindo et al, Journal for ImmunoTherapy of Cancer

O objetivo da equipa de investigação é criar um comprimido que possa ser mais eficaz e que produza menos efeitos secundários do que as terapias que existem atualmente na luta contra o cancro.

“O que queríamos com esta molécula era depois administrá-la, sob a forma de um comprimido, por via oral. O que ela faz é diminuir o bloqueio que o cancro desenvolve à resposta, à proteção que o nosso organismo normalmente desenvolve, que o tumor, ao longo da sua progressão, acaba por ultrapassar e bloquear”, explica a cientista.

“O que esta molécula faz é eliminar esses bloqueios“, acrescenta Helena Florindo.

Esta molécula poderá vir a ser uma alternativa mais acessível e eficaz à terapia através de anticorpos, utilizada actualmente na luta contra o cancro, conforme explicou a investigadora.

“É uma molécula produzida por uma síntese química simples. Por exemplo, nós produzimo-la no nosso laboratório, mas é claro que para depois sintetizar e para administração aos doentes tem de ser em fábricas especializadas e em condições especializadas, enquanto que os anticorpos são moléculas biológicas. É uma produção diferente, mais complexa”, referiu ainda.

De acordo com Helena Florindo, esta molécula poderá ser eficaz no combate a vários tipos de cancro, entre eles o cancro da mama ou do pulmão, cancros que actualmente são tratados com recurso a terapias com anticorpos.

“Estamos a falar, por exemplo de melanoma metastático, de fases muito agressivas deste tumor, cancro do pulmão, da bexiga ou da mama. Já existem vários tipos de tumores a quem este tipo de anticorpos estão aprovados para o tratamento deste tipo de tumores”, explica.

“Às vezes, o que acontece é que alguns doentes não conseguem completar a terapêutica por alguns efeitos adversos também. Nós esperamos que esta pequena molécula possa também ser utilizada por esses doentes pela indução de menores efeitos adversos”, acrescentou.

Segundo Rita Acúrcio, a primeira autora do estudo, a equipa usou recursos computacionais e bioinformáticos para encontrar pequenas moléculas que tivessem capacidade de inibir essas proteínas.

Os resultados, obtidos após estudos feitos em ratinhos que produzem proteínas PD-1 e PD-L1 humanas, foram “um controlo do crescimento do tumor e um aumento do número de células imunológicas ativas” na massa sólida do tumor, refere a investigadora e professora da FFUL

O próximo passo da equipa assenta em ensaios clínicos em seres humanos, que poderão demorar cerca de dois anos, e “avaliar a eficácia da molécula quando administrada por via oral, uma vez que tal constituiria uma alternativa bastante importante para os doentes”, explica a investigadora.

A equipa está ainda a tentar optimizar a molécula para que o efeito no tratamento dos tumores possa ser superior ao que acontece no tratamento com anticorpos.

ZAP // RFI / FFUP

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