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Os cientistas podem ter descoberto por que a menstruação dói tanto

estherase / Flickr

Cerca de 80% das mulheres relatam ter tensão pré-menstrual

Um grupo de investigadores pode ter descoberto novas pistas que ajudam a explicar por que motivo a dor menstrual e os sintomas pré-menstruais (TPM) podem ser tão dolorosos para algumas mulheres. 

Num grande estudo realizado em 2016, os cientistas descobriram uma ligação entre um biomarcador de inflamação e o nível de TPM, que sugere que a inflamação aguda pode estar a provocar todas as cólicas e o inchaço pré-menstrual.

Há anos que os cientistas sabem que medicamentos anti-inflamatórios podem ajudar durante o período pré-menstrual e, a maioria dos médicos, já os recomenda para amenizar as dores. No entanto, este é o primeiro estudo em grande escala a identificar uma ligação biológica entre a inflamação e os sintomas pré-menstruais.

Esta ligação pode, no futuro, ajudar os cientistas a encontrar tratamentos mais eficazes, que possam servir de alternativa aos analgésicos vendidos sem receita médica.

Depois de examinar 2939 mulheres nos Estados Unidos, uma equipa da Universidade da Califórnia, nos EUA, mostrou que havia uma correlação positiva entre a nível da TPM e a presença de uma proteína c-reativa de grande sensibilidade (hs-CRP).

Esta proteína de alta sensibilidade é um biomarcador para a inflamação corporal. Tendo isso em conta, os cientistas sugerem que quanto maior for a presença desta proteína, maior será a inflamação corporal da mulher e, por isso, o seu período pré-menstrual será mais doloroso – excluindo as dores de cabeça.

“Os sintomas de humor pré-menstrual, cólicas abdominais, dor nas costas, apetite, aumento de peso, inchaço e dor mamária – mas não a cefaleia – podem estar significativa e positivamente relacionados a níveis elevados de hs-CRP, embora com associações modestas, mesmo após o ajuste com múltiplas outras variáveis”, relataram os investigadores no Journal of Women’s Health.

Esta pesquisa pode ser um grande avanço, uma vez que 80% das mulheres relatam ter TPM e há pouca pesquisa sobre as causas ou possíveis tratamentos. Atualmente, as melhores opções passam pelos analgésicos vendidos sem receita médica ou, nos cenários mais complicados, um anti-inflamatório com prescrição.

Ou seja: durante anos, milhares de mulheres enfrentaram sintomas e desconforto pré-menstrual – que vão desde náuseas e vómitos até à depressão -, por não haver muitas escolhas para o tratamento. No início de 2016, John Guillebaud, professor de saúde reprodutiva da University College London, disse que o campo foi negligenciado durante décadas porque “os homens não compreendem a situação”.

No entanto, se mais fatores biológicos associados à TPM forem encontrados, os cientistas poderão desenvolver tratamentos melhores ou, pelo menos, identificar os de maior risco. A descoberta deste biomarcador dá aos cientistas algumas novas pistas sobre o que investigar de seguida.

“Os resultados também sugerem que os fatores associados a cada sintoma pré-menstrual são complexos, sugerindo mecanismos potencialmente diferentes para a etiologia de alguns sintomas. A inflamação pode desempenhar um papel mecanicista na maioria das TPM, embora seja ainda necessário um estudo longitudinal destas relações”, pode ler-se no estudo.

“No entanto, pode ser útil para a prevenção recomendar às mulheres que evitem comportamentos associados à inflamação, e os agentes anti-inflamatórios podem ser úteis para o tratamento desses sintomas”.

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