Uma equipa de cientistas implantou falsas memórias em pássaros e o resultado foi satisfatório: os animais conseguiram aprender melodias simples que nunca tinham ouvido antes, já que os investigadores conseguiram ativar seletivamente neurónios específicos dos seus cérebros.
À semelhança dos humanos, os pássaros aprendem a emitir sons com os membros mais velhos do seu ciclo social. Agora, graças a uma técnica conhecida como optogenética, uma equipa de cientistas do Southwestern Medical Center, da Universidade do Texas, conseguiu ativar neurónios específicos nos cérebros dos animais, fazendo-os reproduzir sons que nunca tinham ouvido antes.
A optogenética consiste em utilizar luz para controlar tecidos vivos. Como cada canal celular é ativado por um determinado comprimento de onda, a emissão de luz numa certa frequência permite que o manipulador ative ou desative um determinado tecido.
No caso dos pássaro estudados, o método permitiu à equipa ativar certos circuitos de neurónios, fazendo com que os animais fossem capazes de memorizar novas músicas. O artigo científico foi publicado no início de outubro na revista Science.
Em comunicado, os cientistas adiantaram que esta “é a primeira vez que confirmamos a existência de regiões cerebrais que codificam memórias de objetivos comportamentais, que são aquelas que nos guiam quando queremos imitar qualquer coisa, da fala à aprendizagem de piano”, explicou Todd Roberts, coautor da investigação.
“As descobertas permitiram-nos implantar essas memórias nestes animais e orientar a aprendizagem das canções”, acrescentou.
Os pássaros usaram estas memórias implantadas para aprender “sílabas” de canto: a duração de cada nota correspondia à quantidade de tempo que a luz mantinha os neurónios ativos, ou seja, quanto menor a exposição à luz, menor a nota.
Na prática, os cientistas não ensinaram os pássaros a cantar, mas quanto tempo deveria durar cada nota. A descoberta parece um pequeno passo, mas pode abrir a porta à identificação de circuitos cerebrais que influenciam outros aspetos da vocalização, como o tom ou a ordem de cada som.
Além disso, adianta o Science Alert, esta investigação pode ter importantes implicações em seres humanos. Os cientistas esperam poder relacionar o mapeamento dos processos neurais envolvidos na aprendizagem dos pássaros com os dos seres humanos.
Desta forma, os cientistas poderiam usar o conhecimento obtido para conhecer em pormenor os genes relacionados com a fala, que, muitas vezes, são comprometidos em pacientes com transtornos que afetam a comunicação.
“O cérebro humano e os caminhos associados à fala e à linguagem são muito mais complicados do que os circuitos dos pássaros”, apontou Roberts. “A nossa investigação fornece fortes pistas sobre onde procurar mais insights sobre distúrbios de neurodesenvolvimento.”