Cientistas identificam proteína responsável por metástase no cancro do pâncreas

O cancro do pâncreas é um dos tumores mais agressivos. Um dos fatores chave da sua elevada taxa de mortalidade está na sua capacidade de criar metástases. Um novo estudo admite ter descoberto a proteína responsável por esta elevada capacidade de migrar e afetar outros órgãos.

Em 2020, cerca de 6% de todos os cancros diagnosticados em Portugal eram cancro do pâncreas.

Estima-se que a percentagem de sobrevivência do cancro do pâncreas ronde os 10%, o que o torna num dos tumores mais devastadores.

O cancro do pâncreas tem uma grande capacidade de criar metástases e é esta disseminação descontrolada que, geralmente, causa a morte nos seus pacientes. Até então, os mecanismos por detrás desta capacidade extraordinária de metastização ainda não tinham sido identificados.

Um grupo de investigadores da Universidade da Califórnia debruçou-se sobre esta questão e descobriu que a expressão anormal da proteína Engrailed-1 (EN1) pode ser responsável pela progressão do cancro.

Os resultados, verificados em ensaios in vitro e in vivo em ratos, mostraram que níveis de EN1 elevados estão associados ao cancro do pâncreas grave. Além disso, verificaram também que, em humanos, há uma correlação direta entre os níveis de EN1 e a capacidade de metastização do tumor.

Estes resultados sugerem que o EN1 possa ser um potencial alvo terapêutico para o tratamento do cancro do pâncreas.

“Identificámos um novo fator epigenético que pode contribuir para as metástases do cancro do pâncreas, que é um dos tumores mais difíceis de tratar”, afirma Chang-Il Hwang, autor principal do estudo recentemente publicado na revista Advanced Science.

“Compreender estes mecanismos permitir-nos-á identificar potenciais alvos de tratamento e reduzir os níveis de mortalidade”, acrescenta.

Embora as metástases sejam uma componente importante na progressão do cancro do pâncreas, os investigadores não conseguiram até agora identificar as mutações genéticas responsáveis por isso — o que os levou a postular que talvez fossem fatores não genéticos os responsáveis por esta progressão.

Estas alterações poderiam advir de alterações epigenéticas ou de uma produção desregulada da proteína EN1. Anteriormente, a equipa tinha identificado vários fatores de transcrição cujos níveis de expressão estavam elevados em pacientes do cancro do pâncreas que sofreram metástases, face a pacientes com tumor primário.

Um destes fatores de transcrição foi o EN1, uma proteína que, geralmente, não é produzida em células pancreáticas adultas.

Já foi demonstrado que o EN1 é responsável por formas agressivas do cancro da mama e também está associado a outros tipos de cancro como o glioblastoma e o carcinoma adenóide cístico da glândula salivar. No entanto, até então, o seu papel no cancro do pâncreas ainda não tinha sido identificado.

Nesta linha de raciocínio, os investigadores tentaram perceber se o aumento ou diminuição dos níveis de EN1 tinha algum impacto no crescimento de “organóides” do cancro do pâncreas – aglomerados tridimensionais de tecido cultivado em laboratório.

Os resultados mostraram que, quando o EN1 é inibido, as células pancreáticas têm menos probabilidade de sobreviver e se replicar.

No entanto, quando a sua expressão é aumentada, a sobrevivência das células pancreáticas é preservada. Além disso, estas células mostraram uma capacidade maior de invasão e migração celular, uma característica chave da metastização.

“É muito claro que o EN1 é um fator importante na agressividade do cancro do pâncreas”, afirma o investigador Jihao Xu. “Quando induzimos a expressão de EN1, as células tornam-se mais metásticas e agressivas. Por outro lado, quando inibimos a sua expressão, a sua capacidade de metastizar diminui abruptamente”.

Através da análise de uma base de dados de pacientes com cancro do pâncreas, os investigadores perceberam que o EN1 é importante para o prognóstico do cancro do pâncreas. Os níveis de EN1 estavam mais elevados num subconjunto de pacientes com cancro avançado, sendo que estes pacientes tendiam a ter um pior prognóstico.

“Pacientes com níveis elevados de EN1 têm menos possibilidade de sobreviver, o que sugere que este fator de transição contribui para a progressão do cancro do pâncreas”, explica Hwang.

A equipa de investigadores está agora focada em testar estas evidências em humanos. Além disso, pretendem também perceber que de forma é que o EN1 pode ser utilizado como um alvo terapêutico no combate ao cancro do pâncreas.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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