Cientistas erradicaram cancro do fígado de ratos com ondas sonoras

Marcin Szczepanski / Michigan Engineering

O transdutor de ultra-sons usado no laboratório da Umich

Os ratos que sofriam de cancro do fígado demonstraram a eficácia de um tratamento fascinante e não invasivo de ondas sonoras.

Através de ultra-sons focalizados, os cientistas conseguiram destruir até 75 por cento do volume de um tumor hepático. O tratamento também parece fazer com que o sistema imunitário dos ratos elimine o resto.

Segundo a Science Alert, em 80% dos animais, o cancro parecia ter sido eliminado, sem sinais de metástases ou de recorrência nos três meses em que foram monitorizados, de acordo com os investigadores. O tratamento, chamado histotripsia, está atualmente a ser testado em humanos com cancro do fígado.

“A histotripsia é uma opção promissora que pode superar as limitações das hipóteses atualmente disponíveis e proporcionar uma eliminação segura e eficaz não invasiva do tumor hepático”, salientou Tejaswi Worlikar, engenheira biomédica da Universidade de Michigan.

“Esperemos que os nossos resultados neste estudo motivem futuras investigações pré-clínicas e clínicas de histotripsia, para o objetivo final da adoção clínica do tratamento de histotripsia, em doentes com cancro do fígado”, acrescenta.

Desenvolvida e pioneira na Universidade de Michigan, a histotripsia parece oferecer uma nova esperança aos pacientes com uma das formas mais mortíferas de cancro.

A técnica utiliza um transdutor de ultra-sons, não para ressaltar estruturas internas para fins de imagem, mas para perturbar fisicamente os tumores cancerosos.

 

Esquema de funcionamento da histotripsia

Funciona por ultra-sons — de forma semelhante ao método utilizado para quebrar células gordas de forma não invasiva, para tratamentos de perda de peso.

As ondas de ultra-som são dirigidas à área a ser tratada e as vibrações geram pequenas bolhas no tecido visado. Quando as bolhas colapsam, ou rebentam, o tecido é perturbado, destruindo essa parte do tumor.

Muitas vezes não é possível atingir o tumor completo. A forma como as massas estão posicionadas, o seu tamanho e o seu estado podem influenciar até se é seguro usar a histotripsia em todo o tumor.

Mas mesmo um tratamento parcial resultou numa regressão completa em 81% dos ratos tratados, de acordo com o estudo, publicado a 7 de março na Cancers. Em contraste, 100 por cento dos ratos mostraram progressão tumoral.

“O nosso transdutor, concebido e construído na Universidade de Michigan, fornece impulsos de ultra-sons de alta amplitude em microssegundos de comprimento, para se concentrar no tumor, especificamente para o fragmentar”, explicou Zhen Xu, professora de engenharia biomédica da Universidade de Michigan.

“Mesmo se não atingirmos todo o tumor, ainda podemos fazê-lo regredir e também reduzir o risco de futuras metástases”, sublinha.

Marcin Szczepanski / Michigan Engineering

As investigadoras Zhen Xu (esq) e Tejaswi Worlikar (dir)

Para este estudo, 22 ratos de laboratório foram implantados com cancro do fígado. Metade foi deixada como grupo de controlo, enquanto os restantes 11 foram tratados com histotripsia, visando entre 50 a 75 por cento do volume do tumor.

Três ratos adicionais foram tratados em menor grau, tendo a histotripsia como alvo apenas 25% do volume do tumor.

Após o tratamento, os ratos foram dissecados para determinar o sucesso do tratamento. Os investigadores procuraram sinais de progressão, metástases e marcadores imunitários.

O prognóstico para os ratos de controlo era mau. Todos os 11 mostraram sinais de progressão e metástase. Em três semanas, os tumores atingiram o tamanho máximo permitido pelos protocolos éticos e foram eutanizados.

Mas os ratos tratados tiveram resultados muito melhores. Não só o tratamento prosseguiu sem complicações ou efeitos secundários, como a maioria dos ratos — nove dos 11 — mostrou regressão tumoral, e sobreviveu sem tumor durante o resto do estudo, cerca de 10 semanas.

Estudos anteriores sobre histotripsia tinham demonstrado que o tratamento era eficaz na redução do volume tumoral. O novo estudo, porém, mostra que também parece aumentar significativamente as taxas de sobrevivência, após o tratamento.

Os resultados do estudo “sugerem que a histotripsia pode não aumentar o risco de desenvolver metástases pós-ablação, em comparação com os controlos”, salienta a equipa de investigação.

“Estudos futuros continuarão a investigar a segurança, eficácia, e efeitos biológicos da histotripsia, para uma potencial passagem para a clínica”, concluem as investigadoras.

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