Cientistas europeus anunciaram a descoberta de anticorpos que atacam o Zika, um passo que esperam vir a permitir o desenvolvimento de uma vacina contra este vírus, responsável por lesões cerebrais em fetos.
Os anticorpos – os “soldados da frente” do sistema imunitário – “neutralizaram eficazmente” o Zika em células humanas em laboratório, e foram também eficazes contra um outro vírus semelhante, a dengue, anunciou a equipa.
A descoberta “pode levar ao desenvolvimento de uma vacina universal” contra as duas doenças, esperam os cientistas.
As moléculas capazes de neutralizar o Zika foram retiradas de pessoas que já tinham sido infetadas com dengue e cujos sistemas imunitários produziram anticorpos para combater a doença.
“Os anticorpos poderiam ser usados, por exemplo, para proteger mulheres grávidas com risco de contrair o vírus Zika”, disse Felix Rey, especialista em virologia no Instituto Pasteur, em França, coautor dos estudos.
“Nunca esperámos descobrir que os vírus da dengue e do Zika são tão próximos que alguns anticorpos produzidos contra o vírus da dengue possam também neutralizar o vírus do Zika de forma tão potente”, acrescentou.
No entanto, Rey admitiu que até se conseguir uma vacina eficaz, há um longo caminho a percorrer: “Ainda há muito a fazer, nomeadamente realizar um ensaio clínico. Isto pode levar algum tempo”, explicou.
Dois milhões em todo o mundo
Benigno para a maioria das pessoas, o Zika tem sido ligado a lesões cerebrais severas – microcefalia – em bebés, e a um raro problema neurológico em adultos, tal como a síndrome de Guillain-Barre, que pode causar paralisia e morte.
Num surto que começou no ano passado, cerca de 1,5 milhões de pessoas foram infetadas com Zika no Brasil, num total mundial de cerca de dois milhões de pessoas, e mais de 1.600 bebés nasceram com cabeças e cérebros anormalmente pequenas.
O Zika e a dengue são transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti, e pertencem à mesma família de vírus (Flaviviridae).
Ainda não existe qualquer prevenção para o Zika, mas há uma vacina contra a dengue, que causa sintomas semelhantes a uma gripe, como febre, dores de cabeça, náusea, vómitos, dores musculares e uma urticária parecida com sarampo.
Em 1% dos casos, a dengue causa uma febre hemorrágica, responsável pela morte de cerca de 22.000 pessoas por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A doença é endémica no Brasil.
A investigação fez uma revelação preocupante: para além dos dois anticorpos que destroem o Zika, a maioria das moléculas ativas contra a dengue podem aumentar a potência do Zika.
Isto sugere que uma prévia exposição ao vírus da dengue “pode aumentar a infeção por Zika”, alertou Gavin Screaton, do Imperial College London, outro dos autores dos estudos.
“Isto pode explicar por que o atual surto tem sido tão severo e por que ocorre em áreas onde a dengue é prevalecente”, referiu.
Esta descoberta sublinhou a importância de utilizar os anticorpos corretos na vacina contra o Zika, disse Rey.
/Lusa