Num novo estudo, uma equipa de investigadores da Universidade Estadual da Geórgia, nos Estados Unidos, descobriu evidências de um sistema universal de comunicação não verbal.
O estudo, liderado pela professora de Ciências Cognitivas Şeyda Özçalışkan, envolveu 100 crianças dos 3 aos 12 anos, metade das quais com inglês como língua nativa, e a outra metade de lingua turca.
Os investigadores pediram às crianças que descrevessem um dado número de ações, de duas formas diferentes: com palavras e movimentos das mãos, e depois usando apenas gestos manuais.
O estudo, publicado recentemente na revista Language and Cognition, tinha como objetivo explorar como a linguagem influencia o pensamento e a expressão, em particular nos gestos.
As línguas inglesa e turca foram escolhidas pelas suas diferenças estruturais na descrição de eventos, explica o Science Alert. Por exemplo, em turco, descrever alguém a correr para dentro de uma casa implica dividir a ação em partes, enquanto em inglês, a descrição é expressa numa frase compacta.
Quando as crianças falavam e gesticulavam simultaneamente, os seus gestos seguiam as convenções da sua língua nativa. Os gestos das crianças turcas espelhavam a estrutura das suas frases, enquanto as crianças falantes de inglês combinavam gestos num único movimento.
Este padrão surgiu em crianças tão jovens quanto 3 e 4 anos, indicando que a linguagem influencia desde cedo representações não verbais de eventos.
No entanto, quando as crianças usaram apenas gestos manuais sem falar, as diferenças específicas da linguagem nos seus gestos desapareceram: as crianças usaram o mesmo conjunto de gestos para descrever a mesma ação ou evento.
Esta descoberta está alinhada com as conclusões de um estudo anterior com adultos, conduzido por Özçalışkan e colegas e publicado em 2017 na Cognitive Science, que mostraram que pessoas cegas de língua nativa inglesa e turca, quando não falavam, organizavam as ideias de forma semelhante à usada por pessoas normovisuais.
Um estudo anterior com crianças de língua nativa alemã e inglesa, publicado em 2019 na revista PNAS, permitiu também concluir que a linguagem gestual não acompanhada por linguagem verbal não segue necessariamente a estrutura da língua nativa.
Estas descobertas sugerem assim que pode haver um sistema básico de comunicação não verbal universal, partilhado por todos, que é modificado à medida que a linguagem verbal é aprendida.