Cientistas da UC desvendam mecanismo de envelhecimento do coração

ZAP // Dall-E-2; NightCafe Studio; Universidade de Coimbra

A equipa de investigadores da UC: Susana Pereira, Luís Grilo (primeiro autor do estudo) e Paulo Oliveira

Um estudo conduzido por uma equipa internacional de investigadores , em colaboração com a Universidade de Coimbra (UC), revela novas informações sobre o mecanismo de envelhecimento natural do coração que pode ter um potencial impacto no surgimento de doenças cardiovasculares.

Os cientistas acreditam que esta descoberta pode, futuramente, contribuir para novas formas de diagnóstico precoce de doenças cardiovasculares, e também para o desenvolvimento de terapias para a prevenção destas patologias.

Os resultados desta descoberta foram apresentados num artigo recentemente publicado na revista Advanced Science.

O estudo contou com a participação dos investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia da Universidade de Coimbra Luís Grilo (primeiro autor do estudo), Paulo Oliveira e Susana Pereira (autores seniores).

Até ao momento, sabe-se que as doenças relacionadas com o coração são mais prevalentes em idades avançadas.

No entanto, não se sabe como é que o envelhecimento exclusivamente fisiológico –  o envelhecimento ‘natural’, que resulta no declínio de determinadas capacidades físicas e cognitivas e na perda de funções orgânicas, que podem dar origem a doenças – pode ter impacto no funcionamento do coração.

Neste sentido, conhecer os primeiros sintomas de envelhecimento cardíaco pode ser pertinente para a deteção atempada da disfunção cardíaca e respetiva prevenção, sublinham os autores do estudo, em nota de imprensa enviada ao ZAP.

Perante este cenário, a equipa de investigação procurou identificar a cascata de mecanismos moleculares responsáveis pela relação entre o envelhecimento natural do coração e a disfunção cardíaca, através de modelos de primatas não humanos saudáveis, com fisiologia muito próxima ao coração do ser humano.

Os cientistas conseguiram identificar que as adaptações cardíacas derivadas do envelhecimento se iniciam com alterações metabólicas nas células cardíacas.

De forma mais detalhada, foi possível perceber que com a idade, o coração usa mais glicose para a síntese de moléculas, que se acumulam nas paredes do coração durante o envelhecimento.

“Numa fase inicial, esta acumulação promove o enrijecimento das paredes do coração e, numa segunda fase, hipertrofia cardíaca. Estas duas consequências estão diretamente relacionadas com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares”, sublinha a equipa da Universidade de Coimbra.

Atualmente, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo. Além deste grande impacto na mortalidade, um número significativo de pessoas com este tipo de patologias necessita de cuidados específicos e continuados – como exames e medicação –, o que resulta em elevados custos para a pessoa e para os sistemas de saúde.

Neste contexto, a descoberta apresentada neste estudo pode contribuir para melhorar o diagnóstico e, consequentemente, reduzir a mortalidade.

“Ao identificar eventos moleculares que ocorrem naturalmente no coração antes do aparecimento de doenças cardíacas, como fizemos neste estudo, abrimos portas ao desenvolvimento de novas formas de diagnóstico precoce, prevenindo mortes e reduzindo custos associados ao diagnóstico e tratamento de doenças cardiovasculares”, destacam os autores do estudo.

Os investigadores da Universidade de Coimbra adiantam que este estudo pode abrir caminho para o desenvolvimento de métodos não invasivos para detetar a acumulação das moléculas no coração humano, melhorando, assim, as técnicas de diagnóstico atuais.

“Será também crucial investigar e testar futuramente novas abordagens farmacológicas que possam impedir a acumulação de moléculas nas paredes do coração e, consequentemente, evitar o seu enrijecimento”, conclui a equipa de investigadores.

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