Cientistas britânicos usam hip hop para tratar distúrbios mentais

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coupdoreille / Flickr

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Dois investigadores britânicos estão a usar as letras de músicas de rap para tratar pacientes com depressão, dependências e transtorno bipolar.

“O Hip Hop Psych, ou Psiquiatria do Hip Hop, está a abrir as portas a uma cultura que combina a medicina e a música, com respostas incríveis”, contou à BBC a neurocientista Becky Inkster, da Universidade de Cambridge.

O projecto usa letras de canções ligadas à cultura hip hop e a outros estilos musicais para ajudar pacientes com distúrbios mentais a expressarem-se.

“Usamos a música como um veículo para nos aproximarmos de pessoas mais jovens”, afirma Inkster.

“É difícil fazer contato com eles e também é difícil passar conhecimento, mas através hip hop, eles discutem as coisas. Podemos por exemplo conversar sobre qual é o melhor rapper, Nas, Biggie ou Tupac – e eles realmente abrem-se ao diálogo.”

A música hip hop está cheia de referências à saúde mental, ligadas a vícios, psicoses, desvios de conduta, transtorno bipolar e outros”, conta no site oficial do projecto, onde se afirma ainda que “as letras de hip hop vão muito além dos insultos ou provocações, de falar sobre dinheiro e da exploração das mulheres”.

@TheLancetPsych / Twitter

 Becky Inkster e  Akeem Sule, investigadores da  Universidade de Cambridge

Becky Inkster e Akeem Sule, investigadores da Universidade de Cambridge

Fãs de hip op

A cientista conta que a ideia partiu da sua preferência pessoal pelo estilo musical. “Sempre fui muito fã de hip hop, mesmo que não vivesse numa comunidade onde o estilo fosse popular.”

O seu colega Akeem Sule, psiquiatra e investigador associado do departamento de psiquiatria da Universidade de Cambridge, diz que também “ouve hip hop desde que ele começou”.

“Eu queria ser rapper, mas os meus pais queriam que fosse psiquiatra. Nasci na Nigéria, e lá tínhamos que fazer o que os pais queriam.”

Algumas das canções utilizadas no projecto falam das experiências dos próprios cantores com depressão e com a dificuldade de falar de traumas emocionais.

Segundo Sule, muitos pacientes jovens têm dificuldades em explicar o que se passa com eles.

“Mas se lhes pedirmos que cantem um rap, eles conseguem. Aí encontramos uma narrativa muito rica, eles abrem-se mais”, afirma.

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Acalmar a mente

Dois do participantes do projeto, Ice e Stickz, explicaram à BBC o papel do rap na sua recuperação.

“Em vez de ter que explicar as coisas pelas quais passei, faço rap sobre elas“, diz Stickz, de 26 anos, que foi diagnosticado há quatro anos com transtorno bipolar e que hoje é um rapper.

Stickz conta que a música o ajudou a recuperar a autoconfiança e a reencontrar a sua personalidade.

Já Ice, também de 26 anos, toma medicamentos para a esquizofrenia paranóide e pretende seguir carreira no hip hop.

“O rap acalma a minha mente. Um dia as pessoas vão gostar da minha música. Posso ser um exemplo para as pessoas que estão a passar por dificuldades”, diz Ice.

ZAP / BBC

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