Um dueto de piano entre um homem e um computador programado com bolor. Eis o resultado do projecto de Eduardo Miranda, compositor e investigador em Inteligência Artificial, que comprova a sua tese de que podemos programar computadores com matérias vivas.
Após mais de um ano de pesquisa, este cientista brasileiro que lidera o Centro para a Pesquisa em Música Computadorizada da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, criou “uma máquina de música sem precedentes”, conforme o próprio salienta no Vimeo, onde dá a conhecer a sua “música de biocomputador”.
Eduardo Miranda destaca que este biocomputador foi construído em laboratório e “baseado em organismos programáveis cultivados em placas de circuito que são capazes de desenvolver os seus próprios circuitos”.
Ele e a sua equipa utilizaram o fungo “Physarum polycephalum”, também denominado como bolor limoso, e que habitualmente se encontra em zonas húmidas e pouco iluminadas nas florestas. E concluíram que o bolor pode tornar-se numa “componente eléctrica em constante evolução”, cita o site Wired, notando que constataram que, quando cultivado em placas de circuito, pode guardar informação sobre cargas eléctricas como se fosse um verdadeiro “chip” de memória.
E quanto a este dueto improvável, quando Eduardo Miranda carrega numa tecla do piano, o biocomputador responde com um tilintar que se prolonga como um eco. Em termos práticos, o que acontece é que os dados sobre as notas tocadas são enviados para um computador, por via de um microfone, que “traduz os sons para sinais eléctricos que são enviados para o biocomputador”, nota o Wired.
É então que o bolor processa esses sinais eléctricos, devolvendo a informação ao computador que cria as voltagens que, por sua vez, provocam electroímanes que pairam acima das cordas do piano, propiciando a sua vibração e o som ondulante que se ouve no vídeo, conforme explica o site.
Eduardo Miranda repara ainda no facto de ser impossível controlar o que vai sair do outro lado e sublinha que “é quase como se estivesse a interagir com um ser vivo senciente”. “Mas, no final das contas, é uma máquina”, refere, citado pelo Wired.
SV, ZAP