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Cientista que criou bebés geneticamente modificados faz promessa bombástica

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Alex Hofford / EPA

He Jiankui apresentou o seu trabalho durante a conferência

He Jiankui, que esteve preso durante três anos após criar os primeiros bebés geneticamente modificados, garante que vai curar uma doença rara em três anos.

Em novembro de 2018, o mundo acordou com a surpreendente notícia de que um cientista chinês criou aqueles que eram os primeiros bebés geneticamente modificados do mundo. “A sociedade decidirá o que fazer a seguir”, disse He Jiankui, durante o anúncio do feito, em Hong Kong.

Jiankui revelou como deu origem a duas gémeas resistentes ao VIH, Lulu e Nana, desativando um gene que codifica uma proteína que permite que o vírus entre nas células, salientando que se encontram num estado “normal e saudável”.

O cientista disse que alterou os embriões durante os tratamentos de fertilidade de sete casais, tendo resultado numa gravidez até agora. Jiankui afirmou que o objetivo não é curar ou prevenir uma doença hereditária, mas tentar criar uma capacidade de resistência a uma possível infeção futura de VIH.

Alguns cientistas ficaram espantados ao terem conhecimento da alegação e condenaram-na com veemência. Os peritos consideraram ser “inconcebível” e “prematuro demais” fazer uma experiência desta em humanos.

Pouco depois do anúncio, o cientista chinês desapareceu. Entretanto foi condenado a três anos de prisão e saiu em liberdade em abril do ano passado. Agora, depois de uma hiato forçado, He Jiankui quer voltar à investigação científica.

Em entrevista ao jornal El País, o cientista refere que criou o Instituto de Investigação em Doenças Raras, batizado de Laboratório He Jiankui. O seu objetivo será tratar doenças com origem genética em “crianças e adultos, mas não embriões”.

“Aprendi que fiz as coisas muito depressa. As minhas próximas investigações serão transparentes e abertas a todo o mundo. Os avanços serão publicados nas redes sociais e existirá uma equipa internacional de cientistas que vai rever o nosso trabalho”, disse Jiankui sobre o trabalho com embriões.

O anúncio dos bebés geneticamente modificados originou grande polémica em todo o mundo, e houve quem lhe chamasse o “Frankenstein chinês”. Foi arduamente criticado pela comunidade científica, que considerou que passou uma barreira ética inaceitável.

Na mesma conferência em que apresentou as gémeas Lulu e Nana, Jiankui também acrescentou que havia um terceiro bebé que podia nascer igualmente alvo de embriões geneticamente modificados. Não se sabe novidades deste possível terceiro bebé.

Agora, depois de criar o novo laboratório, o polémico cientista quer angariar 137 milhões de euros de multimilionários para financiar a sua investigação em tratamentos para doenças raras. A ideia é criar tratamentos genéticos acessíveis a todos.

He Jiankui garante que vai curar uma doença rara em três anos, mas diz que precisa do financiamento da riqueza de homens como, por exemplo, o fundador da Alibaba.

No entanto, há quem não veja com bons olhos o regresso do cientista, comparando-o aos cientistas nazis que fizeram experiências com judeus nos campos de concentração.

He Jiankui é a principal figura de um documentário da Apple TV chamado “Make People Better”. Nele, é contada a história do cientista chinês, passando pela sua fase de estudante até à ascensão à ribalta.

Daniel Costa, ZAP //

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