Investigadores da Universidade de Leipzig, na Alemanha, analisaram o comportamento de dezenas de milhares de pessoas para tentar descobrir se a ordem de nascimento de uma criança tem influência na sua inteligência e sua personalidade.
Os cientistas contaram com 20 mil pessoas do Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos para verificar o quanto eram neuróticas, extrovertidas, abertas e simpáticas, concluindo que a personalidade não é afetada pela ordem de nascimento.
No entanto, o estudo, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, observou uma pequena diferença na inteligência – os irmãos mais velhos tendem a ser ligeiramente mais inteligentes do que os irmãos mais jovens.
Os investigadores também descobriram que há diferenças na maneira como os irmãos pensam. Os mais velhos têm uma probabilidade maior de concordar com afirmações como “sou rápido para entender as coisas” do que os irmãos mais novos.
Estas pessoas também tinham uma probabilidade maior de dizer que acharam fácil compreender ideias abstratas e que tinham um vocabulário mais rico do que os irmãos mais novos.
Apesar de as razões para essas conclusões não estarem claras, pesquisas anteriores sugerem que podem estar ligadas ao estatuto social do filho mais velho dentro da família do que a mudanças biológicas ocorridas no útero da mãe.
Saúde
Outra característica que o estudo mostrou é relativa à saúde: os filhos mais novos parecem ser mais saudáveis que os mais velhos.
Vários outros estudos já analisaram a relação entre a ordem de nascimento e a incidência de diabetes tipo 1. Cientistas observaram que os filhos que nasceram depois, em segundo lugar, terceiro ou depois, apresentavam risco mais reduzido da doença quando comparados aos filhos que nasceram primeiro.
Especialistas sugerem que isto é causado por mudanças no útero da mãe ou devido a experiências depois do nascimento, como um atraso na exposição da criança mais velha à infecções.
Os irmãos mais novos têm mais probabilidade de serem expostos a uma maior variedade de vírus e bactérias, mais cedo que os irmãos velhos, pois os mais velhos trazem estas doenças para casa quando voltam da escola.
Segundo as hipóteses dos investigadores, isto pode estimular o sistema imunitário dos mais novos e reduzir o risco de as defesas destas crianças atacarem de forma incorreta – o que resultaria em doenças autoimunes como diabetes tipo 1.
Sexualidade
Outra característica mostrada pela pesquisa é que homens com irmãos mais velhos têm mais probabilidades de serem homossexuais. O efeito, de acordo com cientistas, é conhecido como “fenómeno do irmão mais velho”: cada irmão mais velho aumenta um pouco a probabilidade de o irmão mais novo se sentir atraído por homens.
O professor Tony Bogaert, da Universidade Brock no Canadá, é um dos cientistas que observou primeiro o fenómeno e acredita que isto é um efeito biológico.
“Cada irmão mais velho, na verdade, muda o útero de alguma forma. E acreditamos que a explicação mais plausível tem a ver com a resposta imunitária materna”, afirmou.
Fetos masculinos produzem um tipo particular de proteína no útero que ajuda na formação dos órgãos genitais masculinos. Mas, quando esta proteína é produzida, o corpo da mãe responde produzindo anticorpos.
Este é um processo natural e não é perigoso nem para a mãe e muito menos para o bebé. Mas significa que na próxima gravidez estes anticorpos são produzidos mais rapidamente se o próximo feto também for menino.
O resultado, segundo os cientistas: ter irmãos mais velhos significa que um feto masculino pode ter sido exposto mais rapidamente a estes anticorpos da mãe. Segundo o professor Bogaert esta resposta imunitária explica o “fenómeno do irmão mais velho”.
No entanto, esta resposta imunitária é apenas um dos muitos fatores que influenciam a sexualidade dos homens.
Características como a inteligência e a sexualidade são determinadas por uma série de fatores interligados, como o tamanho da família, a idade da mãe na época do nascimento dos filhos e, claro, a genética.
Isto significa que encontrar uma relação entre inteligência, sexualidade e a ordem de nascimento dos filhos é extremamente difícil, e são ainda necessários estudos alargados para descobrir como é que estas influências subtis funcionam.
ZAP / BBC