Cidade no Canadá começou a aceitar e proteger os sem-abrigo. Está a resultar (para alguns)

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Tendas de sem-abrigo no meio da rua na Califórnia, EUA

Ao contrário dos EUA, que estão a “varrer” as pessoas da rua, Halifax tomou uma medida temporária para experimentar regulamentar os acampamentos dos seus centenas de sem-abrigo.

Os abrigos de Halifax esgotaram a sua capacidade, e nos parques há pessoas que têm medo de deixar os filhos brincar com receio de “pisar agulhas”, explica Clarissa, mãe de três crianças e habitante de Halifax à BBC.

“Alguns de nós estão realmente a tentar recompor as suas vidas e a trabalhar”, diz Samantha Nickerson, que vive na rua com o marido. Ainda assim, queixa-se outro homem sem-abrigo, Andrew Goodsell, os preços das rendas estão tão elevados que se torna impossível para alguns pagar um aluguer.

O Canadá está acima dos EUA e da Inglaterra no número de pessoas sem-abrigo, existindo cerca de 235 mil (ou mais) indivíduos nessa situação em todo o país. Em Halifax, são cerca de 200, para uma população de 518 mil habitantes.

Como aponta a BBC, esta cidade adotou uma medida bastante diferente do sistema por que optam geralmente os EUA: na Califórnia, por exemplo, já foram eliminados mais de 12 mil acampamentos através de proibição do campismo em espaços públicos, no que é já apelidado de uma “varredura de rua”.

Ainda que várias cidades canadianas, incluindo Halifax, tenham tentado remover acampamentos de sem-abrigo no passado, decisões judiciais recentes na Colúmbia Britânica e em Ontário decidiram que as pessoas sem casa podem acampar no exterior se não existirem abrigos interiores adequados, como é o caso desta cidade, que já atingiu a capacidade máxima nos abrigos.

“A abordagem até há uns anos atrás era eliminá-los, mas agora já não é possível negar que isso não resolve o problema”, disse à BBC Stepan Wood, professor de direito na Universidade da Colúmbia Britânica.

Existem, então 9 lugares designados para campismo, mas apenas 5 estão a funcionar. De acordo com os residentes, a Câmara fornece casas de banho portáteis, e há pessoas que deixam semanalmente água engarrafada e verificam como estão as pessoas, disseram algumas pessoas à BBC.

Por vezes, trazem coisas de que os residentes precisam, como um casaco ou um saco-cama mais quente para o inverno. Os defensores da política garantem ainda que reservar um lugar na cidade aos sem-abrigo reduz a criminalidade.

Parece resultar, uma vez que a medida é provisória e quer apenas pôr um penso-rápido numa questão que a Câmara Municipal reconhece que é mais complexa e tem de ser resolvida com urgência: a criação de um parque habitacional acessível e o aumento da capacidade dos abrigos. Ainda assim, há vários habitantes dos próprios acampamentos que não concordam com a ideia.

“Não queremos estar aqui. Não queremos estar nesta situação”, diz Samantha Nickerson, que acrescenta que “isto é uma monstruosidade e que ninguém o quer”. Na verdade, os habitantes queixam-se de sentimento de insegurança e parcas condições: “No inverno, ficar ao ar livre numa tenda em qualquer lugar não é seguro“, disse Goodsell.

Até mesmo uma vereadora da cidade, Trish Purdy, comentou coma BBC que se opões à medida: “tenho a certeza que os residentes que vivem junto a qualquer um dos acampamentos podem dizer que não receberam qualquer empatia ou compaixão quando os acampamentos foram colocados à sua porta”.

Clarissa, que tem um novo acampamento junto a sua casa, concorda, e garante que ela própria e os seus vizinhos não foram consultados sobre a localização do acampamento e acredita que o local foi escolhido porque o seu bairro é de baixos rendimentos. Mas também há moradores menos receosos.

“É uma grande confusão que as pessoas tenham de viver em parques como única opção de alojamento”, disse outra residente, Ames Mathers. “Estamos no meio de uma crise de habitação e a nossa província e a nossa cidade está a deixar cair a bola”, lamenta, concordando com a medida.

Ainda assim, a cidade sabe que legalizar e regulamentar os acampamentos não pode ser uma medida a longo-prazo, e a solução é bem mais difícil de alcançar — e a Câmara terá de atenuar uma situação que, como adjetiva Goosell, é “deprimente”.

ZAP //

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