/

Chineses alegam ter quebrado criptografia de sistemas de segurança globais

Algo que deveria demorar anos mas que, supostamente, foi conseguido através da computação quântica. Especialistas duvidam mas “se for verdade, é catastrófico”.

Realizamos uma transferência bancária, está encriptada. Dados pessoais numa lista de empresa: encriptados. Entramos no WhatsApp e qualquer conversa fica encriptada.

Numa era de tecnologia e, mais recentemente, de Inteligência Artificial, a criptografia comanda as nossas vidas em muitos momentos.

A criptografia é um processo de protecção de dados, de informações, que – numa linguagem acessível – baralha quem quiser aceder a esses dados confidenciais. Mistura os dados, confunde os “piratas”.

Em princípio, o que é para ser seguro está encriptado. Quando há “desvios”, há problemas, para empresas e clientes.

E, em princípio, conseguir quebrar essa barreira é extremamente complicado. Em sistemas de segurança mais complexos, em entidades mais importantes, até deveria demorar anos e anos.

No entanto, investigadores chineses asseguram que conseguiram ultrapassar essa barreira, através da computação quântica.

O estudo, publicado no final de Dezembro, revela que esse feito foi conseguido por um pequeno computador quântico construído com tecnologia já disponível.

Os computadores quânticos aceleram a factorização de grandes números, quebrar códigos num período mais curto; algo que é mais complicado para computadores tradicionais. A velocidade de processamento é outra.

Mas são precisos milhões de qubits (unidade básica de informação quântica) para conseguir penetrar numa conta bancária protegida por criptografia de última geração.

Por exemplo, lembra a revista Exame, o computador quântico mais poderoso do mundo, o Osprey, tem 433 qubits e não consegue decifrar códigos.

Mas a equipa chinesa liderada por Long Guilu, professor na Universidade de Tsinghua, assegura que o seu novo algoritmo pode reduzir drasticamente a escala de um computador quântico prático para 372 qubits.

A nova máquina, com uma chave de 2.048 bits, terá decifrado o modelo de criptografia RSA-2048, que é utilizado pelas mais altas instâncias: governos, bancos e empresas de tecnologia.

Os cientistas basearam-se no algoritmo de Shor, um algoritmo executado por computadores quânticos que factorizam números extensos em factores primos. Defende que a mecânica quântica permite que a fatoração seja realizada em tempo polinomial , ao invés de tempo exponencial obtido após o uso de algoritmos clássicos.

E a partir daí desenvolveram um novo algoritmo, o sublinear-resource quantum integer factorisation – factorização de número inteiro quântico de recurso sublinear – para optimizar o processo de cálculo quântico.

A equipa conseguiu factorizar uma chave de criptografia com 48 bits num pequeno computador quântico supercondutor de 10 qubits. Falta experimentar numa escala maior.

O estudo não foi revisto por pares. E levanta dúvidas entre especialistas, sobretudo nos Estados Unidos da América.

David Schwed, da empresa de segurança Halborn, reagiu: “Os chineses não vão anunciar que podem quebrar a criptografia se puderem quebrar a criptografia. Eles vão quebrar a criptografia e fazer o que quiserem com essa nova tecnologia”.

Scott Aaronson, director do centro de informação quântica da Universidade do Texas em Austin, acha que este é um dos artigos de computação quântica “mais enganadores” que já viu em 25 anos. “E já vi muitos”.

“Parece-me que seria necessário um milagre para que esta abordagem produzisse algum benefício”, acrescentou, citado pelo jornal South China Morning Post.

Peter Shor, o criador do próprio algoritmo já citado, o algoritmo de Shor (que foi a base para esta inovação), admitiu que “aparentemente há possíveis problemas com este artigo”.

Mas… “Se for verdade, é catastrófico”, avisou Lawrence Gasman, do Inside Quantum Technology.

Um criptógrafo dos EUA, Bruce Schneier, que já esteve a falar no congresso nacional sobre questões de segurança, avisou: “Este estudo é para ser levado a sério. Pode não estar correcto, mas obviamente não está errado”.

“E há outra questão incómoda: porque o Governo chinês não classificou essa pesquisa?”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.