“Grande escalada por parte da China”. Detidos dois suspeitos de espionagem em Westminster

Sunak está preocupado com a interferência chinesa na política interna britânica. Pequim nega as acusações.

Dois homens foram detidos em março no Parlamento do Reino Unido ao abrigo da Lei dos Segredos Oficiais, devido a suspeitas de serem espiões que trabalhavam para a China. A Polícia Metropolitana confirmou que as detenções ocorreram em Oxfordshire e Edimburgo, respectivamente.

Acredita-se que um dos detidos, supostamente um investigador parlamentar focado em assuntos internacionais, tenha ligações com vários deputados das chefias dos Conservadores.

A notícia, avançada pelo no Sunday Times, refere que o investigador tinha ligações a Tom Tugendhat, o Ministro da Segurança, e Alicia Kearns, a presidente da comissão de assuntos externos. Após a detenção, ambos os homens foram levados para uma esquadra no sul de Londres e mais tarde libertados sob fiança, com um seguimento agendado para o início de outubro.

Este incidente reacendeu o debate em torno das relações do Reino Unido com a China. Têm sido notadas crescentes apreensões sobre as alegadas atividades de espionagem da China e interferência no Parlamento do Reino Unido. No ano passado, o MI5 acusou Christine Lee de orquestrar atividades de interferência política, incluindo doações de fundos a iniciativas de deputados em nome da China.

Fontes do parlamento britânico avançam que se trata de “uma grande escalada” por parte da China e que “nunca antes” se tinha visto um caso destes. Países como Austrália e Canadá também reportaram suspeitas de interferência chinesa nos assuntos políticos, com a China a negar categoricamente estas acusações.

Um relatório do Comité de Inteligência e Segurança do Parlamento em julho destacou a lentidão do Governo do Reino Unido no entendimento da escala das ameaças de segurança provenientes da China. O relatório elucidou a intenção da China de interferir nas decisões políticas do Reino Unido. Também enfatizou os desafios legais na acusação de atividades relacionadas à espionagem.

O Reino Unido promulgou este verão legislação de segurança nacional para oferecer poderes de investigação mais extensos sobre espionagem. No entanto, estas recentes detenções foram feitas ao abrigo da antiga Lei dos Segredos Oficiais, considerada insuficiente para lidar com atividades de países hostis.

Sunak diz-se preocupado

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, manifestou hoje ao seu homólogo chinês a “profunda preocupação” pela “interferência chinesa na democracia parlamentar britânica”, após a revelação de uma detenção por espionagem, disse um porta-voz de Downing Street.

O chefe do governo britânico encontrou-se com o primeiro-ministro chinês Li Qiang à margem da cimeira do G20 em Nova Deli, na Índia, e manifestou a sua “profunda preocupação com a interferência chinesa na democracia parlamentar britânica”.

Ainda à margem da cimeira do G20, o ministro da Justiça britânico, Alex Chalk, afirmou que a questão da China é um desafio que “define uma época”.

O grupo de pressão da Aliança Interparlamentar para a China afirmou estar “chocado com os relatos de infiltração no parlamento britânico por alguém que alegadamente atua em nome da China”.