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China não quer “brincar à Guerra dos Tronos”, mas exige respeito pela sua soberania

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Luong Thai Linh / EPA

O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros afirmou esta quarta-feira que Pequim não pretende destronar os Estados Unidos como potência hegemónica, e que respeitará os interesses norte-americanos, mas defenderá o seu modelo de desenvolvimento, não admitindo interferências.

Wang Yi, que falava à margem de um jantar em Nova Iorque organizado por grupos empresariais e pelo Comité Nacional para as Relações EUA-China, lembrou que o “conflito e confrontação” não levarão a lado algum. “A China e os EUA não podem avançar um sem o outro”, apontou.

A crescente assertividade da política externa chinesa e a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos ditaram o deteriorar das relações entre as duas maiores economias do mundo. Washington passou a definir o país asiático como a sua “principal ameaça”, apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas, que ameaça bipolarizar o cenário internacional.

Durante a intervenção na Assembleia Geral das Nações Unidas, na terça-feira, Donald Trump voltou a atacar as práticas comerciais de Pequim e disse que não aceitaria um “mau acordo” nas negociações comerciais com a China.

Donald Trump referiu que, depois da entrada do gigante asiático na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, ficou provado que estavam “erradas” as teorias que previam que esse desenvolvimento iria “liberalizar” o país asiático e “fortalecer” as proteções comerciais e legais.

Não só a China rejeitou adotar as reformas que prometeu, como entrou numa batalha económica, depende de enormes barreiras comerciais e de grandes subsídios estatais, recorre à manipulação de moeda, fazem dumping de produtos, obrigam à transferência de tecnologias e promovem o roubo de propriedade intelectual”, disse Trump.

Wang Yi defendeu que as negociações para pôr fim à guerra comercial entre Pequim e Washington devem assentar no respeito mútuo e lembrou que uma desagregação das duas maiores economias do mundo não é realista: “É como tentar construir castelos no ar”, afirmou. “Separar-se da economia chinesa, seria como separar-se de oportunidades e do futuro”, apontou ainda.

Wang rejeitou ainda a visão de parte da elite política norte-americana de que a China pretende substituir os EUA como principal potência mundial, e erguer uma nova ordem mundial. Trata-se de um “julgamento estratégico errado” e reflete “falta de autoconfiança” em Washington, considerou. “Procurar a hegemonia não está no nosso ADN”, garantiu.

Wang Yi lembrou que a China é um país em desenvolvimento, ainda muito atrás dos Estados Unidos em riqueza per capita, índice de desenvolvimento humano e na ciência, tecnologia ou ensino. “A China não tenciona jogar à Guerra dos Tronos no cenário mundial. Por enquanto, e no futuro próximo, os Estados Unidos são e continuarão a ser o país mais forte do mundo”, disse.

Wang Yi considerou ainda que os dois países precisam de seguir os princípios da não interferência nos assuntos internos um do outro, respeitar a soberania territorial e não tentar moldar o outro à sua imagem, referindo a posição de Washington sobre as questões de Hong Kong e Xinjiang. “Para assegurar a prosperidade de Hong Kong é necessário rejeitar a violência e respeitar o Estado de Direito”, disse.

“Esperamos que os EUA sejam consistentes nas suas palavras e ações, respeitem a soberania da China e respeitem os esforços do Governo de Hong Kong para parar a violência e restaurar a ordem”, afirmou.

No caso de Xinjiang, Wang também criticou as acusações dos EUA ao tratamento dado pela China à minoria étnica de origem muçulmana uigur, garantindo que a política repressiva de Pequim visa combater o extremismo e o terrorismo.

O secretário de Estado adjunto dos EUA, John Sullivan, deve liderar um painel de discussão sobre a “crise dos direitos humanos em Xinjiang”, durante uma reunião marcada para esta semana na Assembleia Geral da ONU.

Organizações não-governamentais estimam que a China mantém detidos cerca de um milhão de membros da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigure e alguns cazaques, em campos de doutrinação política, na região de Xinjiang.

// Lusa

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