Chegou a moda das drogas digitais… injetadas por sons

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São várias as formas que o ser humano já encontrou e experimentou para fugir da realidade. Cheirar, lamber, mastigar, ou mesmo injetar várias substâncias. Agora existe uma nova forma de alterar a mente — através de sons digitais.

Há um novo tipo de droga no mercado, e o seu princípio ativo são ondas sonoras. Não, não estamos a falar de punk metal post-gótico industrial, nem qualquer outro tipo de música que a maior parte dos ouvintes considere intragável.

Num novo estudo, publicado em Março deste ano na Wiley Online Library, os investigadores examinaram uma forma relativamente nova de alterar mentes, que faz uso de sons digitais, para alimentar frequências assíncronas em cada ouvido.

Ao sintonizar estas “batidas binaurais“, algumas pessoas relatam que podem desligar-se, reduzir a dor, melhorar a memória, e aliviar a ansiedade e depressão.

De acordo com o Science Alert, para determinar que ligação pode existir entre o uso de substâncias psi coativas mais tradicionais e a experimentação com batimentos binaurais, uma equipa de investigadores da Austrália e Reino Unido analisou os resultados do Global Drug Survey, um inquérito com mais de 30.000 indivíduos de 22 países realizado em 2021.

Os investigadores identificaram cerca de 5% dos inquiridos que tinham experimentado batimentos binaurais no último ano. Destes, pouco mais de 1 em cada 10 estava a fazê-lo apenas para fins recreativos.

A maioria dos consumidores analisados encontrava-se na faixa dos adolescentes até aos 20 anos, tinham usado substâncias proibidas como MDMA ou cannabis, e eram dos EUA, México, Reino Unido, Brasil e Polónia.

Para além de procurarem os efeitos de alucinogénios, as suas razões para experimentarem batimentos binaurais eram bastante variadas.

“É muito novo, não sabemos muito sobre o uso de batimentos binaurais como drogas digitais”, diz a autora principal Monica Barratt, uma cientista social da Universidade RMIT na Austrália.

“Este inquérito mostra que isto está a acontecer em múltiplos países. Tínhamos informação episódica, mas esta foi a primeira vez que perguntamos formalmente às pessoas como, porquê e quando é que as estão a usar“.

O fenómeno dos batimentos binaurais em si, não é novidade. Apareceu pela primeira vez na literatura em meados do século XIX.

Mas graças à facilidade com que as pessoas podem agora girar a um ritmo trivial feito de frequências conflituosas e partilhá-las online, os batimentos binaurais estão a tornar-se uma forma de arte cada vez mais popular.

Teoricamente, pensa-se que as batidas binaurais induzem mudanças no cérebro, graças à forma como o nosso sistema sensorial interpreta as diferentes frequências de baixa frequência quando estas são alimentadas separadamente em cada ouvido.

Se ouvirmos um tom de 400 hertz num ouvido, por exemplo, e um tom de 440 hertz no outro, o seu cérebro irá interpretá-lo como um zumbido único de 40 hertz localizado algures dentro do seu crânio.

Esta interpretação requer mais do que apenas a nossa maquinaria auditiva periférica, faz uso de um complexo de hardware de tronco cerebral enterrado profundamente dentro das nossas cabeças, levando os neurónios de longe a sincronizarem-se em padrões de ondas associados ao relaxamento.

Essa é a teoria. Apesar de existem alguns estudos que encorajam uma investigação mais profunda dos batimentos binaurais como meio de aliviar a ansiedade aguda, outros argumentam que os benefícios da terapia destes tratamentos — pelo menos quando se trata de alterar os humores e a mente — continuam por validar.

Ceticismo científico à parte, não faltam pessoas dispostas a experimentar os batimentos binaurais. O que para 12% dos que relataram tê-los ouvido recentemente, inclui a tentativa de replicar uma experiência psicadélica.

“Tal como as substâncias ingeríveis, alguns utilizadores de batidas binaurais estavam à procura de uma pancada” diz Barratt.

Quaisquer preocupações potenciais de que ouvir música que altera a mente possa ser um trampolim para o abuso de substâncias mais tarde, não foram sustentadas pelo estudo. A maior parte dos que esperavam atingir uma mudança de consciência já estavam a usar outras drogas ilícitas.

Além disso, havia muitas outras razões para as pessoas estarem a explorar uma paisagem sonora binaural, de acordo com Barratt.

“Muitas pessoas viam-nas como uma fonte de ajuda, tal como para terapia do sono ou alívio da dor”, diz a cientista.

Se as chamadas ‘drogas digitais’ geram mais entusiasmo do que o efeito das drogas tradicionais é assunto para futuros investigadores.

Por agora, as estatísticas dão-nos um bom ponto de partida para acompanhar os comportamentos daqueles que se auto-medicam — ou procuram prazer — através de meios alternativos.

Inês Costa Macedo //

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