A nossa matéria cinzenta pode ser 2º C mais quente que o resto do nosso corpo. As temperaturas mais elevadas são as do cérebro das mulheres, na segunda metade do ciclo menstrual.
Os cérebros humanos podem ser mais quentes do que pensávamos, atingindo quase 41°C nas mulheres, de acordo com um estudo publicado na Brain, a 13 de junho.
Os resultados do estudo podem mudar a forma como as pessoas com lesões cerebrais são tratadas, sublinha Nina Rzechorzek, de Laboratório de Biologia Molecular de MRC em Cambridge, no Reino Unido. “Isto vai dar-nos uma melhor compreensão sobre o funcionamento do cérebro”.
Presumia-se que a temperatura do cérebro fosse a mesma do resto do corpo — cerca de 37°C — mas não havia maneira de saber ao certo, segundo a New Scientist.
Pessoas com lesões na cabeça podem ter sondas de temperatura altamente sensíveis colocadas no cérebro, mas não se faz o mesmo com pessoas que não precisam da sua temperatura cerebral monitorizada por razões médicas.
A equipa de Rzechorzek analisou os cérebros de 40 pessoas saudáveis — metade das quais eram mulheres — através de uma técnica recente chamada espectroscopia de ressonância magnética, que utiliza máquinas de ressonância magnética para medir a temperatura de diferentes partes do cérebro.
Esta foi a primeira vez que a técnica relativamente nova foi utilizada para medir a variação da temperatura do cérebro durante o dia e ao longo do ciclo menstrual. O estudo não incluiu pessoas transgénero.
A temperatura do cérebro variou entre 36,1°C e 40,9°C, com a leitura média 2,5°C mais alta do que a temperatura corporal registada na boca. Estes valores, de acordo com Rzechorzek, fazem sentido porque o cérebro é metabolicamente ativo.
As leituras mais elevadas foram registadas no tálamo, uma das partes mais profundas do cérebro, que pode ser menos arrefecida pelos vasos sanguíneos do órgão. “Está mais quente no núcleo”, explica Rzechorzek.
A equipa também descobriu que o cérebro é cerca de 0,9°C mais frio à noite, o que pode ser por haver um maior fluxo de sangue para o órgão quando dormimos.
Os cérebros das mulheres, segundo o estudo, ficavam 0,4°C mais quentes durante a segunda metade do ciclo menstrual, entre a ovulação e a menstruação, em comparação com a primeira metade, e em comparação com os homens.
Os médicos normalmente tentam baixar a temperatura corporal das pessoas com lesões cerebrais, porque estão preocupados que as altas temperaturas sejam prejudiciais — uma abordagem que pode ser repensada, diz Rzechorzek.
“Estamos a assumir que um valor de, por exemplo, 40°C é anormal, mas não temos quaisquer provas que nos digam isso”, conclui.