Os cérebros humanos cresceram nos últimos 90 anos. Será que isto é boa notícia?

Apesar do tamanho do cérebro não ser um marcador de inteligência, é curioso pensar que o cérebro humano está a ficar cada vez maior, quando se compara o volume da massa cerebral entre pessoas que nasceram em diferentes gerações.

Ainda inexplicado, este aumento observado nos últimos 90 anos pode proteger os mais novos das demências, incluindo a doença de Alzheimer.

O aumento do cérebro humano foi descoberto (e medido) por uma equipa de investigadores da Universidade da Califórnia em Davis (UC Davis), nos Estados Unidos. Foram realizadas milhares de ressonâncias magnéticas ao longo dos anos.

Com isso, os cientistas descobriram que o volume cerebral de quem nasceu nos anos 1970 é 6,6% maior do que os nascidos nos anos 1930. Além disso, a área da superfície cerebral é quase 15% maior.

Ainda não se sabe como estão os cérebros das gerações mais jovens, como os nascidos nos anos 1990 e nem nos anos 2000.

Como é que o estudo mediu o cérebro humano?

Publicado na revista científica JAMA Neurology, o estudo norte-americano envolveu a análise de ressonâncias magnéticas feitas por 3,2 mil voluntários, sendo 53% mulheres.

Embora os participantes tenham nascido entre os anos 1930 e 1970, o exame de imagem do cérebro foi feito quando eles tinham, em média, 57 anos. Por isso, foram considerados exames realizados entre 1999 e 2019.

Aqui, é preciso observar uma limitação do estudo. Todos os envolvidos moravam nos EUA e a maioria deles era branca. Sem considerar diferentes regiões do globo e com baixa diversidade étnica, é preciso ter cautela em generalizar os achados para todo o mundo.

Em algum canto do planeta, esta tendência pode não ser real.

Considerando as amostras disponíveis, a equipa afirma que há um aumento gradual e consistente em diversas estruturas no cérebro, variando conforme o ano em que o indivíduo nasceu.

Por exemplo, o volume cerebral (volume intracraniano) dos nascidos em 1930 tinha, em média, 1.234 mililitros. Para o outro grupo, o mesmo volume foi calculado em 1.321 mililitros. Há um aumento de 6,6% no volume.

Já a área da superfície cortical apontou um aumento médio ainda maior, indo de 2.104 centímetros quadrados para 2.056 centímetros quadrados. Aqui, a diferença foi de quase 15%. Além disso, o volume do hipocampo, da substância branca e da substância cinzenta também aumentaram.

Aumento cerebral e o risco de Alzheimer

A partir do aumento do volume cerebral, os investigadores defendem a ideia de que isso pode reduzir o risco da doença de Alzheimer. A hipótese está relacionada com a reserva cerebral, também conhecida como reserva cognitiva. Basicamente, é um fator de proteção contra as doenças neurodegenerativas, que costumam acometer o cérebro na velhice.

“Uma estrutura cerebral maior representa uma maior reserva cerebral”, afirma Charles DeCarli, professor de neurologia e um dos autores do estudo, em nota. Isso pode “amortecer os efeitos tardios da vida em caso de doenças cerebrais relacionadas com a idade, como Alzheimer e demências”, acrescenta.

Para defender a hipótese, os autores explicam que, globalmente, o número total de casos de Alzheimer está a aumentar, como revelam dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A explicação está no aumento populacional, mas não ocorre o aumento do nível de incidência. Na verdade, está a diminuir (pelo menos nos EUA).

“A genética desempenha um papel importante na determinação do tamanho do cérebro, mas as nossas descobertas indicam que influências externas, como fatores de saúde, sociais, culturais e educacionais, também podem desempenhar um papel”, sugere DeCarli.

No entanto, ainda não se sabe dizer quais fatores estão, de facto, relacionados com esta mudança.

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