Há milhares de anos, perto daquilo que é hoje a vila britânica de Heslington, um cadáver começou a decompor-se, tal como manda a Natureza. No final, ficou o esqueleto e, misteriosamente, um pequeno pedaço do cérebro desta pessoa.
Segundo o Science Alert, depois de vários meses a investigar as proteínas desse pedaço de cérebro, uma equipa internacional de cientistas conseguiu, finalmente, algumas pistas que explicam este notável exemplo de preservação.
Ao contrário da maioria dos órgãos, o cérebro precisa de estar bem apoiado a nível celular para funcionar, mantendo conexões dentro do complexo tecido dos neurónios.
Uma matriz de filamentos intermédios (IF) executa essa tarefa em cérebros vivos e, nas circunstâncias certas, podem reter algum tipo de integridade muito tempo depois de as células terem sido reduzidas a cinzas moleculares.
No caso do cérebro de Heslington, a microscopia revelou tramas de IFs que se assemelhavam aos longos fios de axónios que compõem um cérebro vivo, mas apenas mais curtos e mais estreitos, enquanto marcadores de anticorpos combinando com proteínas do axónio confirmaram que já abrigaram as longas caudas de neurónios.
Análises posteriores com marcadores de anticorpos específicos revelaram uma quantidade desproporcional de estruturas neurais pertencentes a células ‘auxiliares’, como astrócitos, com menos proteínas a marcar o tecido da massa cinzenta.
Determinar porque é que esses IFs específicos de astrócitos em particular não seguiram o caminho habitual nunca seria tarefa simples. Por isso, ao longo de um ano, os investigadores mediram o lento desenrolar e quebra de proteínas num exemplar moderno de tecido neural e compararam-no com a decadência no cérebro de Heslington.
De acordo com o mesmo site, os resultados convidaram à especulação sobre um químico que bloqueia enzimas destrutivas, chamadas proteases, nos meses seguintes à morte, permitindo que as proteínas se fundam em agregados estáveis que podem persistir em temperaturas mais quentes.
Ou seja, algo no ambiente onde a cabeça degolada foi encontrada poderia ter inibido os processos químicos que normalmente quebrariam os filamentos de proteínas responsáveis por apoiar os astrócitos da ‘substância branca’ do cérebro, pelo menos por tempo suficiente para que se agrupasse numa forma mais robusta.
A investigação foi publicada, esta quarta-feira, na revista científica Interface.
E seguindo por aí, havendo empenho, poderão muito bem encontrar, ( via aprofundamento de mais estudos), explicação e cura para astrocitomas, glioblastomas, oligodendrogliomas, e até outros tumores que passam pela degeneração das células neuronais, e sua intercomunicação, através das fibras nervosas, do e para o cérebro.