Investigação portuguesa mostra dados novos que podem ajudar a “treinar” decisões de salvamento em situações críticas.
Raramente ou nunca pensamos, mas é um momento essencial, sobretudo no Verão que se aproxima: como reage o cérebro do bombeiro a um incêndio grave?
Surge agora um estudo que revela novas informações sobre a forma como o cérebro de bombeiros reage a situações de resgates arriscados em incêndios em condições críticas.
O estudo tem toque português, foi liderado pela Universidade de Coimbra; e procurou essencialmente identificar processos cerebrais envolvidos na tomada de decisão em condições extremas de combate a incêndios.
47 pessoas – muitos deles bombeiros que estiveram em Pedrógão Grande em 2017 – participaram nesta monitorização da resposta cerebral durante a realização de jogos virtuais de salvamento (visualização de imagens em situações de alto risco, implicando decisões de resgate de pessoas em incêndios).
Os participantes viram cenários realísticos envolvendo vidas em risco para eles próprios e potenciais vítimas, tendo que tomar uma decisão de resgate. Passam por um virtual combate a incêndios com situações de risco de vida, como casas a arder com pessoas em risco no interior.
O cérebro dos bombeiros participantes foi estudado através de imagem por ressonância magnética funcional.
O líder do trabalho, Miguel Castelo-Branco, explica em comunicado enviado ao ZAP: “Ao analisar de que forma o cérebro resolve dilemas que envolvem decisões que podem salvar vidas, foi possível estudar o papel da experiência e o uso de estratégias de coping [conjunto de estratégias cognitivas e comportamentais usadas pelas pessoas para enfrentar situações de stress, perante condições de elevada sobrecarga emocional para o indivíduo], por parte de bombeiros”.
Resultados
O estudo mostrou que perceber que os dilemas de decisão levaram à ativação de redes neuronais envolvidas na gestão da recompensa emocional e outras redes relacionadas com dilemas éticos e deontológicos.
Foi possível verificar que a atividade neural relacionada com a decisão de resgatar pessoas diminuía em certas regiões cerebrais quanto maior a capacidade de usar estratégias de coping, o que sugere uma aprendizagem compensatória adquirida com a prática.
O estudo, continua o professor Miguel Castelo-Branco, revela que “a experiência potencia a ativação de redes neuronais em função destas estratégias de superação emocional, e que o uso destes ‘jogos de escolha crítica’ que desenvolvemos para este estudo podem servir de treino para a tomada de decisão por parte de técnicos de combate a incêndios”.
“Descobrimos ainda que a atividade cerebral em regiões relacionadas com a memória e a decisão – como o hipocampo e a ínsula – aumentava proporcionalmente à medida que o risco aumentava. Foi possível identificar áreas cerebrais cuja atividade se relacionava diretamente com o cálculo da probabilidade de eventos adversos, como a queda de uma casa em chamas ou a perda de vidas”, descreve o especialista.
A investigação também mostrou que quem não é bombeiro, mas passa pelo mesmo momento de decisão, mostra “uma maior influência da ínsula nos circuitos relacionados com a seleção de ações apropriadas. A forma como o cérebro controla a decisão depende da experiência e do treino”.
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