CEO da Altice suspende funções. Empresas fantasma e 660 milhões para amigo

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André Kosters / Lusa

Alexandre Fonseca, CEO da Altice Portugal

Alexandre Fonseca sai da empresa para “proteger os interesses” do grupo. Milhões escondidos do Fisco.

A Altice anunciou nesta segunda-feira que o co-CEO, Alexandre Fonseca, suspendeu as suas funções no âmbito das atividades empresariais executivas e não executivas de gestão do grupo em diversas geografias, incluindo as posições de ‘chairman’ em diversas filiais.

Em comunicado, “o grupo Altice vem tornar público que o seu atual co-Ceo, Alexandre Fonseca, comunicou ao grupo que acionou a suspensão das suas funções no âmbito das atividades empresariais executivas e não executivas de gestão do grupo em diversas geografias, incluindo as posições de ‘chairman’ em diversas filiais”, após uma investigação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do MP.

Com esta sua decisão, Alexandre Fonseca “pretende de forma inequívoca proteger os interesses do grupo Altice, e todas as suas marcas num processo que é público onde, aparentemente, são indiciados atos a investigar ocorridos no período em que este exerceu as funções executivas de presidente da Altice Portugal”, refere o grupo.

“Esta postura de Alexandre Fonseca contextualiza-se num ato responsável no caminho para o cabal esclarecimento da verdade”, adianta.

“Esta é uma decisão que o grupo Altice aceita e valoriza, pois auxilia a salvaguarda da prossecução da sua atividade empresarial e promove a defesa dos princípios da transparência, e da inequívoca colaboração no apuramento dos factos”, conclui o grupo que detém a Altice Portugal, dona da Meo.

Alexandre Fonseca deixou a presidência executiva da Altice Portugal em abril do ano passado, passando a ter funções executivas internacionais no grupo, acumulando com o cargo de ‘chairman’ na subsidiária portuguesa.

De acordo com o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do MP, a operação desencadeada na quinta-feira, que levou a três detenções, contou com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, entre as quais instalações de empresas e escritórios de advogados em vários pontos do país.

Em causa está, alegadamente, uma “viciação do processo decisório do grupo Altice, em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência”, que apontam para corrupção privada na forma ativa e passiva. As autoridades destacam ainda que a nível fiscal o Estado terá sido defraudado numa verba “superior a 100 milhões de euros”.

A investigação indica também a existência de indícios de “aproveitamento abusivo da taxação reduzida aplicada em sede de IRC na Zona Franca da Madeira” através da domiciliação fiscal fictícia de pessoas e empresas. Entende o Ministério Público que terão também sido usadas sociedades offshore, indiciando os crimes de branqueamento e falsificação.

Nas buscas, o DCIAP revelou que foram apreendidos documentos e objetos, “tais como viaturas de luxo e modelos exclusivos com um valor estimado de cerca de 20 milhões de euros”.

Empresas fantasma

Dois suspeitos relacionados com o caso Altice são Armando Pereira, um dos donos do grupo, e o empresário e braço-direito Hernâni Vaz Antunes. Também estão na lista a filha de Hernâni (Jéssica Vaz Antunes) e o economista Álvaro Loureiro.

Os quatro começam a ser ouvidos nesta segunda-feira pelo juiz de instrução Carlos Alexandre.

O Ministério Público suspeita que Armando Pereira e Hernâni Antunes estavam a aproveitar-se de negócios da Altice para ficar com percentagens milionárias – e esconder esses milhões do Fisco.

O Jornal de Notícias explica que os suspeitos circulavam centenas de milhões de euros (não declarados) através de dezenas de empresas, algumas delas fantasma.

O esquema começou na venda de património da Portugal Telecom, em 2015, e depois aproveitou diversas compras, sobretudo imobiliárias, em Portugal e noutros países. Só foi travado em França, onde os suspeitos terão tentado comprar um imóvel por milhões de euros, mas declarar parte do valor; a Lei não deixou.

O grupo dos quatro suspeitos também estaria envolvido no negócio de automóveis de luxo e em clubes ou jogadores de futebol.

660 milhões

O Correio da Manhã lança um número concreto: Hernâni Vaz Antunes e as suas empresas terão facturado 660 milhões de euros entre 2017 e 2022. Tudo à volta da Altice.

Segundo a mesma fonte, o Ministério Público suspeita que Armando Pereira facilitou negócios entre a Altice e empresas do amigo Hernâni – e depois os lucros seriam repartidos entre os dois.

Hernâni Vaz Antunes também é suspeito de ceder vantagens indevidas aos dirigentes da Altice em alguns negócios.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. Boa oportunidade para o inicio da (re) nacionalização do património que já foi nosso.
    EM caso de crime, perdido a favor do Estado mas cuidado com os que lá estão dentro para não se perder novamente para privados.

  2. Já foi nosso? É este comportamento de posse, caraterística de portugueses de determinadao nível (determinado!) sem que tenham pago seja o que for, que faz deste pobre País um país de pelintras, subsídio-dependentes, vigaristas de trazer por casa e ladrõezecos. Invoco aqui o meu direito de opinião.

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