Cientistas descobriram uma potencial ligação surpreendente entre um aditivo comum dos plásticos, o bisfenol A (BPA), e um risco acrescido de autismo em meninos.
O BPA, um químico amplamente utilizado para endurecer plásticos e prevenir a ferrugem em metais, está presente em objetos do quotidiano como chupetas, latas de comida e até recibos de papel.
Os resultados da investigação sugerem que níveis mais elevados de BPA na urina de uma mãe grávida podem aumentar significativamente a probabilidade de o seu filho desenvolver autismo até aos dois anos de idade.
O estudo, que acompanhou o desenvolvimento de mais de 600 bebés, concluiu que os meninos expostos a níveis mais elevados de BPA no útero tinham mais de três vezes mais probabilidades de apresentar sintomas de autismo aos dois anos de idade.
O risco aumentou ainda mais à medida que estes rapazes cresciam, sendo que os expostos a níveis mais elevados de BPA tinham seis vezes mais probabilidades de serem diagnosticados com autismo aos 11 anos, em comparação com aqueles cujas mães tinham níveis mais baixos de BPA durante a gravidez.
O BPA tem estado sob escrutínio há mais de duas décadas devido às suas ligações a vários problemas de saúde, incluindo obesidade, asma, diabetes e doenças cardíacas. Também foi rotulado como um químico que “altera o género” devido ao seu potencial para perturbar o desenvolvimento hormonal e sexual, sublinha o Daily Mail.
A autora do estudo, Anne-Louise Ponsonby, explicou que o BPA pode perturbar o desenvolvimento do cérebro do feto masculino ao silenciar uma enzima chave chamada aromatase. A aromatase desempenha um papel crucial na conversão das hormonas sexuais masculinas, conhecidas como androgénios neurais, em estrogénios neurais. Estes estrogénios são vitais para regular a inflamação cerebral, manter a flexibilidade das sinapses e gerir os níveis de colesterol no cérebro.
O estudo revelou que a supressão da aromatase pelo BPA está associada a alterações anatómicas, neurológicas e comportamentais, que parecem fazer parte do complexo puzzle do autismo. Os resultados foram publicados recentemente na conceituada revista científica Nature Communications.
Os investigadores chegaram a estas conclusões através da análise que mostraram que os meninos com baixa atividade de aromatase tinham 3,56 vezes mais probabilidades de apresentar sinais de autismo aos dois anos de idade, e este risco manteve-se à medida que as crianças envelheciam.
Para compreender melhor como o BPA afeta o desenvolvimento do cérebro, os cientistas fizeram experiências em ratos de laboratório. Descobriram que um ácido gordo chamado ácido 10-hidroxi-2-decenóico (10HDA), que se encontra naturalmente na geleia real das abelhas, podia neutralizar os efeitos nocivos do BPA.
Quando administrado a ratinhos machos expostos ao BPA, o 10HDA melhorou os seus comportamentos sociais, sugerindo que poderia atenuar o impacto do BPA no desenvolvimento do cérebro. Apesar de tudo, ainda é necessária mais investigação para determinar se este potencial tratamento pode ser eficaz em seres humanos.