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“Catástrofe humana sem precedentes”. Exige-se “envio urgente” de ajuda para Cabo Delgado

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Luís Miguel Fonseca / Lusa

Deslocados dos ataques a Palma, Moçambique

População de Pemba junta-se no porto à chegada dos deslocados de Palma.

Mais de 30 organizações da sociedade portuguesa e da Igreja Católica lançaram um apelo conjunto em favor do “envio urgente de ajuda humanitária” para Cabo Delgado, no norte de Moçambique, denunciando uma “catástrofe”.

“A população de Cabo Delgado, em Moçambique, está a viver, desde há quatro anos, violentos ataques, que já fizeram mais de 700 mil deslocados internos, numa catástrofe humana sem precedentes na região”, lê-se no comunicado citado pelo agência Ecclesia.

Os signatários do apelo pedem ao “Governo Português, à União Europeia e às Nações Unidas” que mobilizem esforços para enviar “com urgência ajuda humanitária para a região de Cabo Delgado”.

Mais de 9.000 pessoas fugiram da Vila de Palma, no norte de Moçambique, desde o ataque de grupos jihadistas, no dia 24 de março, relatou o gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

“Pelo menos 9.158 pessoas — 45 por cento das quais crianças — chegaram aos distritos de Nangade, Mueda, Montepuez e Pemba, de acordo com a última atualização da Organização Mundial para as Migrações”, afirma o OCHA, em comunicado divulgado hoje.

Os ataques terroristas sobre as populações no norte de Moçambique já tinham, antes do ataque a Palma, obrigado quase 670.000 pessoas a fugir, contando-se entre elas 160.000 mulheres e adolescentes, 19.000 das quais grávidas. Das pessoas que fugiram de Palma, 67 por cento conseguiram ficar com famílias de acolhimento, que receberam os deslocados em casa.

O OCHA salienta que “a situação continua volátil e milhares de pessoas estão em movimento em busca de segurança e assistência”, no distrito de Palma, depois de o movimento terrorista Estado Islâmico ter reivindicado, na segunda-feira passada, o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.

Em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, foi montado um centro de receção no porto e um centro de triagem num pavilhão desportivo. Os trabalhadores humanitários estão a distribuir alimentos aos deslocados, a montar instalações sanitárias e a encaminhar as pessoas que precisam de cuidados médicos mais urgentes.

Na terça-feira, o porta-voz do OCHA, Jens Laerke, disse à agência Lusa que a situação em Palma é “um horror absoluto infligido contra civis por um grupo armado não estatal”. “Fizeram coisas horríveis e continuam a fazê-las”, disse o responsável, frisando que os ataques continuarão a levar milhares de pessoas a fugir.

O OCHA afirma que há milhares de pessoas ainda a caminhar pela floresta para chegarem a locais seguros, e refere que um número ainda desconhecido de deslocados está em Quitunda, 15 quilómetros a sul de Palma.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. Até que enfim… acertaram com o título! Já estava “farto” de ver “Catástrofes Humanitárias”! Ainda bem que alguém descobriu que as Catástrofes e as Tragédias não têm nada de humanitário!
    Quanto à notícia… É uma tristeza, saber que o ser humano é tão cruel… para com o seu semelhante. Nunca mais aprende! Insurretos!

    • Caro leitor,
      Obrigado pelo seu comentário.
      O uso da expressão “catástrofe humanitária” é controverso, tão controverso aliás como o uso de “catástrofe humana”.
      Neste caso, consta como tal no comunicado citado na peça, pelo que optámos por essa formulação.
      Quanto à controvérsia, da mesma forma que se pode dizer que as catástrofes não têm nada de humanitário, há quem diga também que as catástrofes “não são humanas”, que são “da humanidade” ou “para a humanidade” ou seja, “humanitárias” – argumento esse no entanto que nos faria então usar a expressão “Direitos Humanitários” e nunca “Direitos Humanos”.
      A expressão consta mesmo, por si só, como exemplo do significado da palavra “humanitária” no dicionário Priberam, que assinala o seu uso controverso.

      hu·ma·ni·tá·ri·o
      adjectivo
      1. Relativo à humanidade (ex.: direitos humanitários).
      2. Dotado de bons sentimentos. = BONDOSO
      3. Que procura o bem geral da humanidade ou que procura aliviar o sofrimento dos seres humanos (ex.: ajuda humanitária). = BENFAZEJO, FILANTRÓPICO, HUMANITARISTA
      4. Que causa ou envolve sofrimento de seres humanos em larga escala (ex.: catástrofe humanitária; crise humanitária). [Nota: uso controverso.]
      nome masculino
      5. Que ou quem contribui para melhorar a situação da humanidade. = FILANTROPO
      in Priberam

      Controvérsia à parte, mais do que o uso exemplificado, o significado principal da palavra, “relativo à humanidade”, parece sustentar a correção do uso da expressão “catástrofe humanitária”.

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