No seu volume máximo, as Cataratas de Vitória, no Zimbabué, facilmente encaixavam como uma das maravilhas naturais do mundo. Chegaram a ter uma dimensão de 1,7 quilómetros no seu ponto mais largo e uma altura de mais de 100 metros, mas em 2019 o pior aconteceu.
A queda de água é formada pelo fluxo do rio Zambeze que cai sobre um precipício chamado Primeiro Desfiladeiro. O precipício foi esculpido pela ação da água sobre as rochas vulcânicas que formam a região do sul de África. Contudo, em dezembro de 2019 a maior parte dessa majestosa queda de água foi silenciada.
Durante a maior seca do século na região, sobraram apenas alguns pequenos recantos de água. Segundo a imprensa local, o fluxo hídrico voltou cerca de três meses depois, mas persistem as preocupações quanto ao futuro das cataratas e do clima africano.
Como uma das principais atrações turísticas locais, as Cataratas de Vitória são uma mais valia económica para o Zimbabué e para a Zâmbia. À medida que a notícia do baixo nível de água foi circulando, os comerciantes locais notaram uma queda considerável na chegada de turistas.
Além disso, a falta de água prejudicou o abastecimento de energia, uma vez que afetou o funcionamento de várias barragens.
Por outro lado, as agências humanitárias alertaram que o problema aumentou a necessidade de auxílio alimentar para a população local, uma vez que as colheitas foram prejudicadas pela seca.
Secas extremas
Os observadores de padrões climáticos no rio Zambeze acreditam que as mudanças climáticas estão a causar um retardamento da temporada de monções, fazendo com que as chuvas se concentrem no tempo e sejam mais intensas.
Esta situação torna mais difícil o armazenamento de água na região, além de tornar mais dramático o impacto da temporada de secas, com mais consequências para a população e para o meio ambiente.
Normalmente, um evento climático extremo não é, por si só, considerado uma consequência das mudanças climáticas. Porém, esta região do sul de África tem registado uma série de duras secas que refletem o que os cientistas climáticos previam que iria ocorrer, como resultado do aumento nos gases de efeito estufa na atmosfera global, lançados pela ação humana.
Na altura, o presidente da Zâmbia, Edgar Lungu, disse que a seca da queda de água era “um duro alerta do que as mudanças climáticas estão a fazer com o ambiente”.
O relatório de 2019 da ONU sobre O Estado do Clima em África pintava um cenário preocupante para um continente que pode ver a sua população dobrar no próximo século.
Num discurso no lançamento do relatório, em outubro de 2020, Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, observou que as “mudanças climáticas estão a ter um impacto crescente no continente africano, atingindo com mais dureza os mais vulneráveis, e contribuindo para a insegurança alimentar, o deslocamento de populações e o stress dos recursos hídricos”.
Acrescentou ainda que “nos últimos meses, vimos cheias devastadoras, invasões de gafanhotos do deserto e, agora, a perspetiva de secas, por causa do La Niña”.
O relatório da ONU acrescenta que 2019 esteve entre os anos mais quentes da história no continente africano, uma tendência que deve continuar no futuro.
O mais preocupante é que, ao mesmo tempo em que África deve ser o continente mais atingido pelas mudanças climáticas, é também o que tem menos capacidade para se adaptar às realidades de um mundo mais quente.
ZAP // BBC
Srs do AEIOU:
O rio que passa nas Cataratas Vitoria tem nome em Português. É o rio ZAMBEZE, que passa por Tete, perto de onde nasci, e desagua no Oceano Índico (Canal de Moçambique).
Não é “Zambezi”. Isso é em Inglês.
Obrigado.
Caro leitor,
Obrigado pelo reparo, está corrigido.