As eleições na Catalunha deram a vitória ao socialista Salvador Illa, mas a maioria independentista, da qual faz parte a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) – com os mesmos 33 deputados mas uma menor percentagem de votos -, está mais bem colocada para assumir o governo catalão.
“Somos como água e azeite”, disse Pere Aragonès, citado esta terça-feira pelo Diário de Notícias, o candidato da ERC que já iniciou a sua ronda de contactos para a formação de um executivo independentista. A ERC, que ficou à frente do Juntos pela Catalunha (JxC), anunciou no domingo que defenderá a sua investidura e que quer um “governo amplo”.
Aragonès considerou que, tendo empatado em lugares com os socialistas e obtido quase 600 mil votos, tem a possibilidade de negociar um governo conjunto de todos os partidos a favor da autodeterminação e da “amnistia” do que considera ser os “presos políticos” condenados por terem participado em 2017 na tentativa de independência da Catalunha.
Illa mantém, contudo, o intuito de negociar com todos os partidos. “Sou o candidato que ganhou as eleições, vim para ficar, tenho o objetivo de me apresentar [à investidura] e vou fazê-lo”, disse o antigo ministro da Saúde de Espanha.
“A mudança chegou à Catalunha, para ficar, e a vitória de hoje é um grande passo em frente, mas é apenas o primeiro”, referiu Illa, que conseguiu que o PSC fosse o partido mais votado, com 23% e 33 deputados nas eleições para o parlamento regional, noticiou na segunda-feira a agência Lusa.
A nível nacional, o líder dos socialistas e primeiro-ministro, Pedro Sánchez, permitiu a Illa negociar uma investidura. Mas será o próximo presidente do Parlamento catalão a decidir. O calendário oficial prevê até 20 dias úteis para a investidura do novo Parlamento catalão, cabendo ao presidente interino da Generalitat, Aragonès, estabelecer o prazo, tendo até 12 de março para o fazer.
O candidato proposto terá de vencer por maioria absoluta na primeira votação e, caso não o consiga, dois dias depois pode ser eleito por maioria simples. Se ainda assim não for eleito, começa a contar o prazo de dois meses para se encontrar um outro candidato, findo o qual seriam convocadas eleições antecipadas.
“Extraordinário resultado”, diz Puigdemont
Ainda de acordo com a Lusa, o ex-líder da Generalitat, Carles Puigdemont, enalteceu o “extraordinário resultado” das eleições de domingo para o parlamento regional, que deram uma maioria reforçada ao conjunto dos partidos independentistas.
Numa intervenção em videoconferência a partir da Bélgica, transmitida na noite eleitoral do JxCat, sublinhou que “o resultado extraordinário” dos separatistas “mostrou ao mundo que foi suplantada uma repressão duríssima de três anos e meio”.
“A mensagem que temos de fazer chegar a Madrid e à Europa é que, apesar de todos os esforços para apresentar o independentismo como algo dispensável, é impossível fazer política sem falar de independência, sem passar pelos grupos independentistas ou por um parlamento com uma voz autorizada para falar da República catalã”, disse.
Segundo o Diário de Notícias, um dia depois das eleições, a procuradoria espanhola recorreu da semiliberdade dos nove dirigentes independentistas condenados pela realização do referendo ilegal de 01 de outubro de 2017. Este regime foi dado pela Generalitat no início da campanha eleitoral, no final de janeiro. A procuradoria quer que seja de imediato suspenso, com os presos, entre eles o líder da ERC, Oriol Junqueras, a voltar à prisão.
Extrema-direita com 11 deputados
A extrema-direita espanhola do Vox aparece em quarto lugar com 7,7% e 11 deputados, seguida dos independentistas da Candidatura de Unidade Popular (CUP, extrema-esquerda) com 6,7% e nove deputados e o partido de extrema-esquerda En Comú Podem (associado ao Podemos) com 6,9% e oito deputados.
O grande perdedor das eleições é o Cidadãos (direita-liberal), que nas eleições de 2017 concentrou o voto útil dos constitucionalistas (pela união de Espanha) que agora fugiu para o PSC, e desceu de 25,3% para de 5,6% e de 36 para apenas seis deputados. Por último, o Partido Popular (PP, direita) obteve 3,8% e três lugares no novo parlamento regional.
A taxa de participação nestas eleições baixou mais de 25 pontos percentuais tendo sido agora cerca de 53% dos votos, influenciada pela pandemia de covid-19 que levou muitas pessoas a ficar em casa.