O concelho de Cascais, distrito de Lisboa, registou este sábado maior pluviosidade do que nas grandes cheias de 1983, avançou o presidente da Câmara Municipal, Carlos Carreiras, alertando para a situação de maior risco durante esta noite.
“Estivemos a acompanhar, a grande preocupação era no período das 20:00/21:00 até às 23:00, porque havia um conjunto de coincidências que podem levar a situações de maior risco”, declarou este sábado à Lusa Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, referindo que estava previsto que chovesse mais, coincidindo com a preia-mar.
“A Ribeira das Vinhas continua com bastante carga e a Barragem do Rio da Mula está a encher e vai ter de fazer descargas que são automáticas”, referiu ainda Carlos Carreiras, explicando que “é todo um acumular de água que chega à baixa de Cascais que, por sua vez, é das zonas do país que está considerada de maior risco de cheia”.
“Tivemos um período mais intenso entre as 11:30 e as 13:00 de muita chuva, para se ter uma ideia choveu bastante mais do que tinha chovido nas grandes cheias de Cascais em 1983 e isso provou algumas situações, não da gravidade de 1983, mas ainda assim algumas situações pontuais”, disse o presidente da Câmara, sem dispor do número total de ocorrências registadas devido ao mau tempo.
A 19 de novembro de 1983, Cascais amanheceu coberta de água, “um cenário dantesco no qual o caos imperava, fluíam ao sabor das águas os sacos de batatas, as caixas de legumes e mesmo os carros e carrinhas que os transportavam”, recorda o blog Portugalidade, segundo o qual ainda hoje se podem ver os restos das lamas que o dia trouxe à cidade.
Décadas mais tarde, diz a mesma fonte, os que tiveram a infelicidade de nesse dia acordar rodeados de água, sem eletricidade, telefone ou qualquer tipo de comunicação, ainda sentiam no ar o cheiro putrefacto que emanava daquelas águas lamacentas.
Entre as principais ocorrências deste sábado, a inundação de uma casa na freguesia de Carcavelos levou à retirada de cinco pessoas, que precisaram de ser realojadas, tendo o município disponibilizado alojamento, mas não foi necessário porque optaram por ficar em casa de familiares.
“Houve situações na serra, uma árvore que caiu na linha férrea Cascais – Lisboa e depois situações pontuais, mas sem uma preocupação de maior”, indicou o autarca, referindo que algumas casas também tiveram ao nível das caves alguma inundação.
Outra das ocorrências foi também uma inundação no Pavilhão de Alcabideche onde está a decorrer a vacinação contra a covid-19, “nomeadamente a zona mais sensível e mais estratégica que é onde está o frigorifico com as vacinas”, mas a situação ficou prontamente resolvida e “acabou por não criar preocupação de maior”, afirmou.
Até às 18:00 de sábado, Portugal tinha contabilizado 616 ocorrências devido ao mau tempo, sendo os distritos de Lisboa (394), Leiria (67) e Setúbal (63) os mais atingidos, disse à Lusa Pedro Araújo, comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).
O comandante da ANEPC disse haver registo de “321 ocorrências associadas a inundações, 111 quedas de estruturas, 124 quedas de árvores e 32 limpezas de via”.
Em termos de infraestruturas atingidas pelo mau tempo, o responsável da ANEPC explicou que “a mais relevante aconteceu na linha ferroviária de Cascais, em São João do Estoril, cortada em ambos os sentidos há cerca de cinco horas e meia” devido à “queda de um cedro”.
A ANEPC tinha alertado para a possibilidade de ocorrência de “cheias-relâmpago” em zonas urbanas, devido à subida do nível dos rios.
O Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) pôs sob aviso laranja 13 dos 18 distritos de Portugal Continental, incluindo toda a costa do país, e, a amarelo, cinco distritos do interior, devido ao mau tempo.
De acordo com o ‘site’ do instituto, os distritos do litoral, incluindo todo o Algarve, estão sob aviso laranja, mas, em declarações à Lusa, fonte do IPMA disse não haver ocorrências significativas até ao momento.
Os avisos laranja devem-se sobretudo à precipitação, embora nos distritos mais a norte, Porto, Braga e Viana do Castelo, se devam também ao vento e à agitação marítima.
ZAP // Lusa