Em 1944, David Wisnia e Helen “Zippi” Spitzer eram dois prisioneiros judeus e secretamente namorados que, miraculosamente, conseguiram sobreviver ao campo de concentração nazi Auschwitz, na Polónia.
Porém, no final da guerra, foram separados depois de Wisnia ter sido transferido para o campo de concentração de Dachau. Os dois perderam-se um do outro e não tinham como entrar em contacto.
O único plano era voltarem a reunir-se num centro comunitário em Varsóvia, quando o conflito terminasse. No entanto, esse encontro nunca aconteceu e as suas vidas levaram-nos em direções completamente diferentes.
De acordo com o jornal norte-americano The New York Times, o encontro há muito esperado do casal sobrevivente aconteceu em agosto de 2016 no apartamento de Spitzer na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unido. Foi a primeira vez que os dois se viram desde que foram presos em Auschwitz décadas antes.
Spitzer, que usava o apelido do falecido marido, Tichauer, contou que esperou por ele no lugar combinado em Varsóvia. Mas Wisnia nunca apareceu.
Os dois conheceram-se em Auschwitz em 1943. Os prisioneiros eram separados por género portanto, apenas aqueles que tinham privilégios especiais podiam circular livremente pelo campo, como Wisnia e Tichauer. As habilidades de canto de Wisnia levaram-no de remover corpos de prisioneiros suicidas para se tornar o artista dos guardas nazis e recebeu um trabalho no escritório para desinfetar as roupas dos prisioneiros.
Depois de trabalhar no campo como trabalhadora e a sofrer de tifo, malária e diarreia, as habilidades de design de Tichauer, combinadas com a sua capacidade de falar alemão, fizeram com que tivesse um trabalho privilegiado como designer gráfica do campo. As suas tarefass incluíam a marcação de uniformes de prisioneiras e o registo de novas chegadas de mulheres.
Após a primeira reunião do casal, Tichauer dava comida aos prisioneiros para que pudessem continuar a encontrar-se em segurança e em segredo. Encontravam-se num pequeno espaço entre as roupas dos prisioneiros cerca de uma vez por mês, enquanto outros ficavam de vigia durante 30 minutos a uma hora cada vez que se encontravam.
“Eu não sabia o quê, quando, onde”, disse Wisnia, agora com 93 anos, ao mesmo jornal. “Ela ensinou-me tudo”. Na reunião, Wisnia descobriu o quanto Tichauer usou a sua influência para mantê-lo vivo.
“Eu salvei-te cinco vezes de remessas más”, disse. Tichauer também usou o seu trabalho no escritório para ajudar a resistência contra os nazis, manipulando a papelada para transferir os presos para diferentes empregos e quartéis e esgueirando relatórios oficiais do acampamento para vários grupos de combatentes.
O tempo dos amantes chegou ao fim quando se espalhou a notícia de que os russos estavam a aproximar-se. Ambos conseguiram escapar durante a transferência de prisioneiros entre os campos e casaram-se com outras pessoas. De acordo com o All That’s Interesting, Wisnia estabeleceu-se com sua família em Levittown, na Pensilvânia, enquanto Tichauer acabou em Nova Iorque com o marido.
Finalmente, depois de uma tentativa fracassada, viram-se novamente em 2016. Antes de deixar o apartamento, Tichauer pediu que cantasse para ela, como fez em Auschwitz. Wisnia pegou a mão dela e cantou uma música especial para os dois: uma música húngara que Tichauer lhe tinha ensinado no campo.
Tichauer faleceu, com 100 anos, em 2018.