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Carga viral na saliva ajuda a determinar o futuro de pacientes infetados com covid-19

Robin Van Lonkhuijsen / EPA

A carga viral na saliva de um paciente infetado com o novo coronavírus pode ajudar a prever o seu futuro quadro clínico, conclui um novo estudo da Universidade de Yale, que associou a quantidade de vírus à gravidade da doença.

A descoberta é de investigadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que descobriram uma relação entre a carga viral e as consequências da doença no infetado.

“A carga viral na saliva nos primeiros momentos [de infeção] está correlacionada com a gravidade da doença e com a mortalidade”, disse a equipa da imunologista Akiko Iwasaki, que analisou exaustivamente 154 pacientes com covid-19 no hospital universitário da cidade de New Haven.

Os dados mostram que os níveis virais aumentam progressivamente, de um mínimo em pacientes com sintomas leves, a um máximo em pacientes gravemente doentes e em pessoas que morreram de covid-19.

Além disso, a carga viral mais alta na saliva parece estar associada a fatores de risco conhecidos, como idade avançada, sexo masculino, cancro, insuficiência cardíaca, hipertensão e doenças pulmonares crónicas, relata o jornal espanhol El País.

“Se tirássemos amostras de saliva e analisássemos a carga viral – principalmente no início da infeção, quando a pessoa chega ao hospital – poderia ajudar muito para que os médicos previssem o prognóstico do paciente e a escolha dos tratamentos“, diz o microbiologista espanhol Arnau Casanovas, também autor do novo estudo, que ainda aguarda revisão para ser publicado numa revista especializada.

A equipa liderada por Iwasaki argumenta que a saliva ajuda a prever a progressão da doença muito melhor do que amostras colhidas com um cotonete nasofaríngeo – zaragatoa inserida pelo nariz.

Segundo os investigadores, estas amostras recolhidas com a zaragatoa apenas refletem a multiplicação do vírus no trato respiratório superior, enquanto a saliva também mostra a situação nos pulmões.

Algumas pesquisas mostram ainda que uma maior carga viral na saliva também está associada a uma maior quantidade de biomarcadores no sangue e que essa carga viral mais elevada está ligada a níveis mais baixos de plaquetas, leucócitos e anticorpos específicos contra o coronavírus.

“Traz uma perspetiva valiosa: que a saliva pode ter um valor maior do que se pensava para diagnóstico e prognóstico”, disse Elisabet Pujadas, patologista espanhola e investigadora da Escola de Medicina Icahn do Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, que aplaude o novo estudo.

A equipa do Pujadas publicou, em agosto, um artigo que mostra a relação entre a maior carga viral analisada em amostras de nasofaringe e a mortalidade por covid-19.

“É possível que a saliva reflita melhor a infeção do trato respiratório inferior”, afirma.

Pujadas realça, porém, que a nova análise inclui apenas 154 pacientes e que, por isso, seria “prematuro” concluir que a saliva deveria agora ser usada em vez das amostras nasofaríngeas.

Para a patologista espanhola, a principal lição é que não se devem classificar pacientes covid apenas com um simples positivo ou negativo. É preciso medir a respetiva carga viral.

“Para certos vírus, como o HIV, o padrão de qualidade é a carga viral, porque anos de pesquisa mostraram que tem implicações importantes para o risco do paciente e afeta a estratégia de tratamento. O mesmo deve acontecer com a covid-19 “, conclui Pujadas.

Sofia Teixeira Santos, ZAP //

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