Há 1,4 milhões de anos, os primeiros humanos comiam-se uns aos outros

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Smithsonian

Vista detalhada das marcas encontradas na tíbia

Cortes encontrados numa tíbia com 1,45 milhões de anos foram feitos por ferramentas de pedra com um único objetivo — nutrição.

Cortes encontrados numa tíbia com 1,45 milhões de anos podem ser o mais antigo exemplo de chacina entre hominíneos, tribo de primatas que inclui não só os chimpanzés, mas também os humanos.

A tíbia encontrada em 1971 foi inicialmente identificada como pertencente a um hominídeo da espécie Australopithecus boisei, mas foi reidentificada na década de 1990 como pertencente a um Homo erectus, mais especificamente um misterioso antepassado dos seres humanos que viveu na região do Quénia.

O velho osso apresentava cortes feitos por ferramentas de pedra, aplicadas de forma a retirar a carne da vítima para posterior preparação alimentar, concluiu a análise 3D da autoria de uma equipa de paleontólogos do Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsonian.

“A informação que temos diz-nos que os hominíneos estavam muito provavelmente a comer-se uns aos outros pelo menos há 1,45 milhões de anos”, confirmou a líder do estudo publicado esta segunda-feira na EurekAlert, Briana Pobiner.

Digitalizando um molde do osso e comparando-o a 898 dentes e marcas de cortes previamente criadas em experiências distintas, foi possível entender que nove das 11 marcas na tíbia eram provocadas por cortes — consistentes com o dano provocado por ferramentas de pedra. Já as outras duas marcas pertenciam a dentes, muito provavelmente feitas por um leão.

Apesar de não se saberem qual das marcas foi a primeira, os investigadores notaram claramente que os movimentos de corte foram repetidos, iguais e estrategicamente localizados, sendo possível concluir que os cortes foram propositadamente aplicados para separar a carne do osso — muito possivelmente para confeção.

Esta remoção de carne já havia sido observada, mas com outras intenções, tais como rituais de enterros ou para fazer dos ossos objetos decorativos como colares e joias — mas não desta vez.

“Parece ser provável que a carne desta perna tenha sido comida para nutrição e não para um ritual”, afirmou Pobiner.

Fica ainda por saber ao certo, no entanto, a que espécie é que pertence a tíbia (uma vez que não há certezas absolutas sobre a hipótese Homo erectus) e se os cortes terão sido efetivamente fruto de atividades de canibalismo ou antropofagia — o ato ritual de comer partes do corpo de um ser humano, muitas vezes confundido com canibalismo, que por sua vez consiste no consumo de carne humana como hábito alimentar.

Tim Evanson / Wikimedia

Um modelo do rosto do Homo erectus

Tomás Guimarães, ZAP //

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3 Comments

  1. Portanto, canibalismo que, segundo o texto, é por vezes confundido com canibalismo! De facto é assim mesmo, confuso!

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