Os candidatos preveem gastar na campanha um total de 33,6 milhões de euros, abaixo dos cerca de 39 milhões de euros gastos em 2017, com os socialistas a disporem do orçamento de campanha mais elevado, com 11,43 milhões de euros.
A campanha oficial para as eleições autárquicas, que se realizam em 26 de setembro, começa hoje para mais de duas dezenas de partidos e mais de 60 grupos de cidadãos que concorrem às autarquias do país. Segundo o calendário divulgado pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), a campanha que hoje tem início decorre até 24 de setembro, antevéspera do dia eleitoral.
Apesar das restrições que ainda vigoram, motivadas pela pandemia, as ruas serão o palco predileto de líderes políticos e candidatos autárquicos, muitos com o seu futuro político em jogo. Será o caso de Rui Rio e de Francisco Rodrigues dos Santos. No caso do presidente do PSD, a prioridade será recuperar do fraco resultado de 2017, o pior da história do partido, e não perder mais câmaras — o partido tem atualmente 98 câmaras, 19 das quais em coligação.
Consoante os resultados da noite de 26 de setembro, Rio deverá decidir se se recandidata à liderança do partido, ciente de que contestação e oposição interna não lhe faltará. Mesmo assim, o líder já avançou que a melhor hipótese para o partido reconquistar as câmaras perdidas será em 2025, quando haverá mais mudanças nas autarquias lideradas pelo PS.
Entre os concelhos mais críticos para os sociais-democratas estão Viseu — que, sendo um bastião laranja há décadas, é um alvo aliciante para socialistas —, Coimbra, Barcelos, Guarda e Castelo Branco, algumas das quais presididas atualmente por socialistas, mas alvo de processos na justiça e com autarcas a atingirem o limite de mandatos. Como tal, Rio deverá passar, nos próximos dias, precisamente pela Guarda, Portalegre e Açores — uma escolha pouco expectável, como lembra o Expresso, para o encerramento da campanha.
No caso do CDS, a principal questão será, como aponta o Público, a manutenção das seis câmaras que os centristas controlam atualmente, incluindo a de Ponte de Lima. A seu favor têm as candidaturas conjuntas com o PSD. Francisco Rodrigues dos Santos, candidato à assembleia municipal de Oliveira do Hospital, tem tido uma agenda repleta — possui ainda uma viagem agendada para os Açores para os próximos dias, onde o CDS detém uma câmara e perspetiva a conquista de outra.
No inicio do próximo ano, o partido tem um congresso previsto, onde a atual direção, caso os resultados autárquicos não correspondam ao esperado, pode ser contestada, por exemplo, por Nuno Melo.
Numa posição oposta está o PS de António Costa. Depois do seu melhor resultado em 2017, o objetivo será manter ou até elevar a fasquia. Os socialistas conquistaram 159 câmaras, 147 das quais em maioria absoluta. Mesmo assim, as atenções estão viradas, como referido anteriormente, para Viseu ou até Évora, com expectativas de vitória. Consolidar o resultado conquistado em Almada em 2017, uma surpresa, é outro dos focos.
Na estrada, António Costa — que esta semana tem comícios agendados todas as noites — tem acenado com os milhões provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência, o que lhe tem valido fortes críticas do PSD. Nos próximos dias, o secretário-geral do PS deverá passar por Viana do Castelo, Marco de Canaveses, Amadora, Castelo Branco e Beja.
Já o Partido Comunista, por sua vez, tem também a meta de recuperar alguns dos chamados bastiões perdidos em 2017 sobretudo para o PS (dez câmaras), assim como as maiorias absolutas. O caso de Moura, autarquia conquistada em 2013 e perdida em 2017, é dos casos mais flagrantes, até porque nas últimas eleições presidenciais o concelho alentejano representou o melhor resultado para André Ventura, líder do Chega.
Para o Bloco de Esquerda, que não detém atualmente nenhuma câmara, a prioridade será aumentar a sua representação autárquica, reforçando o número de vereadores eleitos. Garantir a eleição de Beatriz Gomes, candidata à Câmara de Lisboa depois da demissão de Ricardo Robles, é representativo desse objetivo. O partido tem-se mostrado igualmente disponível para novos acordos pós-eleitorais, como aconteceu em Lisboa com Fernando Medina.
O PAN concorre a 43 municípios, nas primeiras eleições de Inês Sousa Real como líder do partido. No entanto, o seu foco deverão estar, sobretudo, nos municípios das áreas metropolitanas de Porto e Lisboa. Atualmente, o partido tem representação autárquica em 22 concelhos.
A Iniciativa Liberal e o Chega concorrem pela primeira vez em eleições autárquicas. No primeiro caso, o partido representado por João Cotrim de Azevedo opta por concorrer sozinho na maioria das câmaras a que apresentou candidatura (53). No Chega, a questão será perceber a que partidos poderá o partido de André Ventura roubar votos.
Mais de 9,3 milhões de eleitores podem votar nestas eleições do poder local, recebendo cada um três boletins de voto, um dos quais para eleger o executivo de cada uma das 308 câmaras municipais, outro para cada assembleia municipal e um terceiro para a eleição das assembleias de freguesia. A CNE estima que tenham sido apresentadas, na totalidade, cerca de 12.370 listas, das quais cerca de 1.035 por grupos de cidadãos eleitores (GCE).
De acordo com os orçamentos de campanha entregues à Entidade das Contas e Financiamentos Políticos, concorrem às autárquicas, isoladamente ou em coligação, mais de 20 partidos: Aliança, BE, CDS-PP, Chega, Ergue-te, Iniciativa Liberal, JPP, Livre, MAS, MPT, Nós, Cidadãos!, PAN, PCP e PEV (que formam a CDU – Coligação Democrática Unitária), PCTP/MRPP, PDR, PPM, PS, PSD, PTP, RIR e Volt Portugal.
Ainda segundo os orçamentos de campanha, 64 dos 308 municípios do país contam com candidaturas de grupos de cidadãos, sendo que, em quatro municípios, há dois movimentos independentes em cada: Albufeira (no distrito de Faro), Sabrosa (Vila Real), Redondo (Évora) e Castelo de Paiva (Aveiro).
Os candidatos preveem gastar na campanha um total de 33,6 milhões de euros, abaixo dos cerca de 39 milhões de euros gastos em 2017. Os partidos e coligações de partidos estimam gastar um total de 31 milhões de euros na campanha eleitoral (em 2017 gastaram 35 milhões) e os grupos de cidadãos 2.639.120,7 euros. O PS continua a ter o orçamento de campanha mais elevado, com 11,43 milhões de euros — um milhão a mais do que o PSD.
De acordo com o mais recente Relatório Síntese dos Processos (Queixas e Parecer) e Pedidos de Informação da CNE, até 05 de setembro esta entidade já tinha recebido pelo menos 577 queixas e 53 pedidos de parecer relacionados com as eleições.