A biblioteca andante, que funciona três dias por semana, é a única forma de os livros chegarem às crianças de várias aldeias do Baluchistão, a maior província do Paquistão.
As sextas-feiras são um dia especial para Sughra, uma paquistanesa de 22 anos. É neste dia da semana que o camelo Roshan chega a Mand, uma das várias cidades remotas na província paquistanesa do Baluchistão.
“Gosto de ler livros de poesia e biografias. Depois devolvo-os na semana seguinte”, explica a jovem à VICE World News, acrescentando: “Esta biblioteca foi a melhor coisa que já me aconteceu”.
Sughra tinha 15 anos quando casou. Foi obrigada a deixar os estudos e, pouco tempo depois, já era mãe de dois filhos, que agora têm três e quatro anos. Segundo o site norte-americano, a província do Baluchistão tem uma das taxas de literacia feminina mais baixas do mundo, assim como a maior percentagem de crianças que não vão à escola. É aqui que este “camelo bibliotecário” pode fazer a diferença.
A biblioteca andante, que funciona três dias por semana e que não tem qualquer custo ou taxa de adesão, é a única forma de os livros chegarem às muitas crianças das várias aldeias da região. Além deles, também têm à sua disposição jogos, puzzles, fantoches e vídeos educativos.
Haneefa Samad, de 29 anos, é professora e voluntária da instituição de caridade responsável pelo projeto. A paquistanesa caminha cerca de seis quilómetros com o camelo e o seu dono, Murad Ali, desde uma escola em Mand até às restantes aldeias.
“Já emprestámos mais de mil livros a 300 crianças desde o lançamento do projeto em outubro passado. O objetivo é colocá-las no sistema escolar”, disse Samad à Vice. O dono do animal também não podia estar mais contente: “Sou analfabeto. Fico muito orgulhoso por saber que eu e o Roshan somos capazes de ajudar as pessoas.”
Raheema Jalal, diretora da escola de Mand, e a sua irmã, Zubaida Jalal, que é Ministra Federal da Produção de Defesa, foram as responsáveis por trás desta ideia e colaboraram com a instituição de caridade em causa para que se tornasse realidade.
“Inspirámo-nos nas bibliotecas do mesmo género que já existem na Mongólia e na Etiópia. Não esperávamos uma resposta tão notável nesta área remota. (…) Agora, queremos expandir o projeto a todo o distrito e esperamos receber doações“, apelam.