Em Coimbra, um jovem designer decidiu abandonar a empresa onde trabalhava para fazer cadernos personalizados com a ajuda de uma máquina de costura portuguesa com mais de 40 anos.
Quando fala do projeto “Um Barra Um“, Daniel Mendes fala sempre na primeira pessoa do plural, por considerar que o projeto é dele e da Oliva, uma máquina de costura portuguesa com mais de 40 anos que era da sua sogra e que hoje o ajuda a criar cadernos personalizados que já se vendem na Austrália, Brasil, Inglaterra, França, Luxemburgo e Estados Unidos.
No natal de 2012, “não tinha dinheiro para prendas” e decidiu fazer cadernos para dar aos amigos.
Os amigos gostaram e recomendaram que criasse uma empresa. Largou o sítio onde trabalhava e lançou o projeto a 05 de janeiro de 2013.
A “Um Barra Um” “começou com cadernos à mão”, mas o passo importante foi juntar a máquina. “A partir daí, foi como amor à primeira vista. Sem ela eu não conseguia ter este projeto e ela sem mim não conseguia costurar cadernos“, conta.
O primeiro caderno, com as linhas tortas e “mal cortado”, está emoldurado no seu ateliê e, para além de ser uma recordação, é também um símbolo do muito que mudou desde esse primeiro passo.
As alterações que fez na máquina Oliva, que tem agora um motor e um pêndulo que ajudam a coser papel, juntamente com a experiência que adquiriu, transformaram aquilo que era o processo de coser as folhas de “meia hora” para cinco minutos.
“Se antes fazia 50 cadernos numa semana, hoje faço quase 50 cadernos num dia“, sublinha.
No pequeno ateliê, onde antes era um quarto de arrumações na sua casa, em Coimbra, Daniel Mendes desenha os cadernos e cose-os.
Os cadernos, de edição limitada, têm normalmente 52 páginas, o papel é de origem controlada e escolhido de acordo com as ilustrações da capa, feitas pelo designer ou por ilustradores a convite.
A partir da rua onde mora, que por coincidência se chama Alma Lusitana, 10% dos livros vão agora para o estrangeiro.
A faturação aumentou 50% de 2013 para 2014 e já fez edições para empresas, casamentos, instituições públicas ou para catálogo de exposições de artistas plásticos e de arquitetos.
De momento, vive dos cadernos, sublinhando que apesar de “ganhar um pouco menos”, faz aquilo que gosta e tem liberdade de horários.
“As coisas foram acontecendo sem se pensar muito”, refere, sublinhando que quer dar “passinhos de bebé”, com calma, sem grande planeamento, mas com uma certeza: “o processo nunca vai ser industrializado”.
Apesar da idade da máquina de costura e dos mais de 60 mil cadernos de cerca de 200 edições que já ajudou a criar, Oliva “está de boa saúde e pronta para as curvas”, assegura Daniel, esperando que “aguente mais uns 50 anos“.
/Lusa