Na escola, no local de trabalho ou nas ruas de Cabul, há afegãs que desafiam todos os dias as novas regras impostas pelo regime talibã.
Um mês depois da tomada do poder no Afeganistão, os talibãs baniram as estudantes do Ensino Secundário e justificaram-se com o argumento de que precisavam de estabelecer um “sistema de transporte seguro” antes de estas raparigas, que estão entre o 6.º e o 12.º ano de escolaridade, poderem regressar.
Mas quando chegou ao poder em 1996, este grupo extremista também deu uma justificação semelhante e a verdade é que as alunas nunca voltaram à escola durante os seus cinco anos no poder.
Atifa Watanyar é professora de Inglês na escola Sayed al-Shuhada, nos arredores de Cabul, e é uma das afegãs que tenta contornar as regras do regime talibã. Incapaz de ensinar essas suas alunas, o seu foco está agora nas raparigas mais novas.
“Todos os dias vejo talibãs nas ruas. Tenho medo destas pessoas. (…) Mas o que devemos fazer? É tudo o que podemos fazer pelas nossas crianças, pelas nossas filhas, pelas nossas raparigas”, afirma à cadeia televisiva CNN.
Sanam Bahnia, de 16 anos, foi uma das estudantes que ficou ferida no ataque terrorista ocorrido perto da entrada desta escola em maio passado. Mesmo assim, nessa altura, a jovem teve coragem para regressar às aulas.
“Uma das minhas colegas, que foi morta, trabalhava muito em prol dos seus estudos. Quando soube que tinha morrido, senti que tinha de voltar e de estudar, pela paz da sua alma. Tenho de estudar e construir o meu país, para que possa realizar os seus desejos e sonhos”, afirmou.
Mas agora, conta a estação norte-americana, a possibilidade de a jovem vir a cumprir esta promessa está em risco. Impedida de frequentar a escola pelos talibãs, Bahnia estuda os seus livros como pode na segurança do seu lar, mas a motivação é diferente.
“Os talibãs são a razão do meu estado atual. O meu espírito foi-se, os meus sonhos estão enterrados”, lamentou a jovem, que disse já ter desistido da ideia de vir a ser dentista.
Protestos continuam
Os ataques contínuos às mulheres estão espalhados por toda a capital. A publicidade com mulheres nas vitrines das lojas foi arrancada ou pintada por cima e, em alguns casos, militantes do grupo ordenaram a afegãs que deixassem os seus locais de trabalho.
Além disso, quando várias manifestantes recentemente protestaram contra o anúncio de um Governo exclusivamente masculino, foram espancadas com chicotes e paus.
Apesar desta situação, ativistas de Cabul continuam a reunir-se e a manifestar-se, tal como aconteceu na última quinta-feira, num protesto com cartazes com palavras de ordem como “Educação é identidade humana” e “Não queimem os nossos livros, não fechem as nossas escolas”.
Os talibãs arrancaram os cartazes das mãos das protestantes, enquanto uma metralhadora disparou tiros de alerta para o ar, o que fez com que os participantes e jornalistas fugissem. Confrontado com esta situação, o chefe dos serviços de inteligência dos talibãs em Cabul, Mawlavi Nasratullah, disse apenas que estas mulheres não tinham permissão para protestar.
“Quando sais de casa para lutar, passa-te tudo pela cabeça”, disse à CNN a líder do protesto, Sahar Sahil Nabizada, contando que tem sido ameaçada repetidamente, mas que nem isso a vai fazer abandonar o país ou a parar de organizar manifestações.
“É possível que morra, é possível que fique ferida, e também é possível que volte viva para casa. Porém, se eu, ou duas ou três outras mulheres morrerem ou ficarem feridas, basicamente estamos a aceitar esses riscos para abrir caminho para as gerações que estão por vir, pelo menos terão orgulho de nós.”
Desafio diário às regras
Segundo as ativistas, há muitos outros atos de desafio diário por parte das afegãs que, apesar de serem menos públicos, são igualmente importantes. Cada vez mais mulheres estão a regressar aos espaços públicos de Cabul, depois de terem ficado fechadas em casa durante várias semanas de incerteza.
Mais do que isso, há mulheres que estão a voltar ao trabalho. Arzo Khaliqyar, viúva e mãe de cinco filhos, é uma delas. A afegã foi obrigada a tornar-se taxista quando o marido foi assassinado há um ano. Mas nas semanas desde que os talibãs assumiram o poder, conduzir foi algo que se tornou cada vez mais difícil, sendo constantemente ameaçada.
Khaliqyar adaptou-se à nova realidade, optando por trabalhar em bairros que conhece bem e escolhendo como clientes principalmente mulheres e famílias.
“Sei muito bem quais são os riscos, mas não tenho outra opção. Em alguns lugares onde vejo postos de controlo dos talibãs, mudo a minha rota. Aceitei este risco pelo bem dos meus filhos”, explicou.
A Idade Média no tempo atual.. no presente.. parece o fim do mundo estes conceitos tão arcaicos de subjugação da mulher à figura masculina. Só porque têm uma pilinha no meio das pernas consideram-se superiores.. enfim, Deus dê clareza às mulheres afegãs e muita coragem para conseguirem fazer frente ao regime opressor.. mas não me cheira que eles fiquem lá por muito tempo. Provavelmente vão continuar a fazer das suas no panorama global, e depois vão ter que ser varridos novamente. Veremos.