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Seis anos depois do sim ao Brexit, Reino Unido já quer voltar (mas só ao “clube” político europeu)

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A primeira-ministra Liz Truss, ela própria uma eurocéptica, está a liderar as negociações para que o Reino Unido volte à esfera política da União Europeia (UE). Seis anos depois do voto no sim ao Brexit é uma reaproximação inesperada.

Três elementos presentes numa reunião realizada nesta quinta-feira revelaram ao Politico que o Reino Unido comunicou aos Estados-membro da UE que está disposto a acolher a primeira reunião da Comunidade Política Europeia (CPE) em Praga, na próxima semana, bem como a cimeira em Londres.

A CPE foi criada recentemente com o intuito de reunir regularmente os líderes da UE. O primeiro encontro está marcado para 6 de Outubro e vai contar ainda com a presença de países candidatos a entrarem na UE, tal como a Ucrânia e a Turquia, e de países vizinhos do território comunitário, como Noruega, Suíça e o Reino Unido.

Este “clube” político pretende discutir os assuntos mais importantes da Europa.

Nesta primeira reunião, o foco deverá estar na guerra na Ucrânia e na crise energética, nomeadamente quanto à ameaça que a Rússia pode representar às infraestruturas críticas europeias no âmbito dos actos de sabotagem aos gasodutos Nord Stream 1 e 2.

O Reino Unido também sugeriu, nessa reunião de quinta-feira, mudar o nome de CPE para Fórum Político Europeu, como refere o Politico – porque o “Comunidade”, afinal, reporta directamente para a UE, o que seria mais embaraçoso para quem votou e defendeu tanto o Brexit.

“Jogada de alto risco” para Truss

Truss fez parte do “coro” de parlamentares britânicos que mais defendeu o distanciamento relativamente à UE. Mas, agora, a primeira-ministra britânica é a principal promotora de uma reaproximação, no âmbito da CPE.

Trata-se de “uma jogada de alto risco” para Truss numa “altura sensível”, como repara o Politico.

Apesar de só ter sido eleita há menos de um mês como líder do Partido Conservador e, logo, primeira-ministra britânica, Truss já está “a lutar para salvar a pele depois de umas desastrosas primeiras semanas”, realça ainda a referida publicação.

O Reino Unido atravessa uma dura crise financeira, tal como toda a Europa, e Truss “não se pode dar ao luxo de irritar os seus colegas” do Partido Conservador que defenderam o Brexit, frisa o Politico.

Mas, ao mesmo tempo, Truss sabe que o Reino Unido precisa de estar no centro das decisões políticas europeias, mesmo que não siga as “regras” comunitárias.

“Não pensaram no Brexit com cuidado suficiente”

Na última semana, o Governo de Truss anunciou um plano de choque com um corte de impostos que obrigou o Banco da Inglaterra a intervir, colocando um travão em quedas históricas nos preços do ouro.

Os ministros das Finanças de França, Alemanha e Espanha criticaram o pacote fiscal de Truss, tal como o FMI e a Reserva Federal dos EUA.

E a ideia generalizada é que o Reino Unido está um pouco à deriva, a pagar as custas do Brexit sem que os seus governantes as tenham antecipado devidamente.

“Os mercados estão a pensar: ‘Eles não pensaram no Brexit com cuidado suficiente e agora também não pensaram nisto'”, aponta o ex-vice-governador do Banco Central da Irlanda, Stefan Gerlach, em declarações ao Financial Times (FT), referindo-se ao pacote de Truss.

“O Reino Unido ainda é um actor importante nas finanças globais e é preocupante ter uma economia tão importante gerida por pessoas que não parecem estar à altura“, lamenta ainda Gerlach.

“A sensação de ‘eu avisei’ é generalizada na Europa”, realça, por seu turno, o ex-vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vítor Constâncio, também em declarações ao FT.

“Desde o Brexit, o Reino Unido mostrou muita arrogância e negação da realidade, como se estivesse a voltar à grandeza e aos tempos do império”, analisa ainda o economista português.

Mas a realidade é que “a libra já não é uma moeda internacionalmente significativa“, o que “é incrível”, nota Constâncio que, actualmente, é professor de Economia na Universidade de Navarra em Madrid.

Susana Valente, ZAP //

2 Comments

  1. A U.E , digamos ao passar , é como um prato de comida com carne e legumes ; e o que os Inglese querem hoje é de se sentarem a mesma mesa , mas só para comerem a carne !

  2. Fui educado a conhecer melhor o R.U. do que o meu país, isto na escola pública portuguesa. Hoje, vejo os “beefs” como sendo, a grande maioria deles, clones do B. J., uma espécie de lunáticos que pensam que ainda estamos no tempo do Império… Apesar de me relacionar com elementos do Reino Unido, depois do Brexit, perdi toda a simpatia que tinha por eles…
    De um álbum musical de um “beef” Putinado… “The lunatic is on the grass…”… tenho que ir ao jardim ver se anda por lá algum!

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