Braço de ferro climático pelo destino da Corrente do Golfo

NASA

Corrente do Golfo – Circulação Meridional do Atlântico

O destino da Corrente do Golfo vai ser decidido por um “braço de ferro” entre dois tipos de degelo do manto de gelo da Gronelândia.

Um estudo publicado recentemente, na revista Science, sugere que o destino da Corrente do Golfo será determinado por uma “luta” entre dois tipos de degelo da Gronelândia.

Os investigadores descobriram que, apesar das atuais taxas de desprendimento de icebergues na Gronelândia serem elevadas, o escoamento das suas costas pode mitigar essa perturbação.

A Atlantic Meridional Overturning Circulation (AMOC), que inclui a Corrente do Golfo, regula o clima através do transporte de nutrientes, oxigénio e calor.

A famosa corrente pode existir em dois estados estáveis: um rápido e mais forte (que vemos atualmente) e outro muito mais lento e fraco.

Atualmente, as alterações climáticas estão a abrandar o fluxo da AMOC, enviando água doce da Gronelândia, tornando a água menos densa e menos salgada.

Tal cenário levou a um número crescente de estudos que sugerem que a corrente está a abrandar e pode mesmo estar a caminhar para o colapso.

A equipa de investigação teoriza que o futuro da AMOC será decidido pela interação entre o nascimento de icebergues e a fusão de água doce da plataforma.

Por um um lado, os icebergues são o principal fator de abrandamento; por outro, também reduzem a sua própria produção, criando um equilíbrio. Uma coisa é certa: até 2100, a AMOC não deverá enfraquecer significativamente.

“A situação vai tornar-se cada vez mais clara no futuro, à medida que forem surgindo mais estudos. Mas penso que, a curto prazo, antes de 2100, o nosso estudo diz que o AMOC não será provavelmente muito enfraquecido”, disse o líder da investigação, Yuxin Zhou, à Live Science.

Críticas ao estudo

No entanto, também são apontadas críticas ao presente estudo, uma vez que não considera outros efeitos do aquecimento do oceano e do Ártico.

À Live Science, David Thornalley, da University College London, alertou que o comportamento atual da AMOC também pode ser diferente do passado, devido a mudanças nas camadas de gelo e nos locais de entrada da água de fusão.

“A grande questão é que o comportamento do AMOC (e a sua reação à água de fusão) durante a última Idade do Gelo é provavelmente muito diferente do atual. O sistema climático oceano-atmosfera comporta-se de forma diferente se tivermos enormes camadas de gelo na América do Norte e a água de fusão entrar no oceano em locais diferentes”, explicou.

“Há muita coisa que ainda precisamos de perceber para termos confiança no comportamento futuro da AMOC: como, por exemplo, a qualidade dos nossos modelos; a facilidade com que a AMOC moderna pode ser desestabilizada; [e] pode haver surpresas inesperadas, boas ou más“, concluiu.

Ainda assim, o especialista considerou que há razões suficientes para existir uma preocupação generalizada em relação ao AMOC, notando que mais vale prevenir do que remediar: “Devemos aplicar o princípio da precaução – não queremos ver em primeira mão os impactos climáticos de um colapso da AMOC. E devemos fazer tudo o que pudermos para evitar”.

ZAP //

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