Uma bomba nuclear nunca detonou por acidente — mas por pouco

2

Entre bombas perdidas ou acidentes que causam a detonação dos explosivos, já houve vários eventos onde estivemos perto de uma catástrofe nuclear. Felizmente, os procedimentos de segurança evitaram o pior.

Desde o nascimento das armas nucleares há mais de 75 anos, já houve 32 casos de “broken arrows“, o nome dado a eventos inesperados, como o roubo, a perda ou a detonação acidental destas bombas.

No entanto, até agora, nenhuma explosão devastadora aconteceu como resultado destes acidentes — mas já houve situações onde escapamos por um triz.

22 de Maio de 1957 foi a data de um destes casos. Nesse dia, uma aeronave dos Estados Unidos estava a transportar uma arma nuclear de uma base no Texas para uma outra base no Novo México.

Perto da aterragem, a arma caiu de repente de uma altitude de 518 metros. Os materiais explosivos detonaram, o que destruiu a arma e criou uma cratera com 7,6 metros de diâmetro e 3,6 metros de profundidade. No entanto, não houve uma explosão nuclear.

Nove anos depois, houve um evento semelhante, quando um Bomber B-52 que levava quatro armas nucleares colidiu com um K-135 Stratotanker durante um abastecimento no ar e duas detonaram. Novamente, não houve explosão nuclear.

Quando o risco é a potencial destruição de toda a vida num raio de centenas de quilómetros, é de esperar que a segurança seja apertada — e foram precisamente os procedimentos de segurança incluídos nas bombas que impediram que incidentes como estes acabassem em tragédia.

Por exemplo, no acidente de 1957, a detonação nuclear foi evitada porque a cápsula com o material nuclear não estava ligado à bomba em si e separar estes dois componentes era um dos procedimentos de segurança mais usados. A sua junção só era feita quando a arma estava pronta a ser usada, escreve o Big Think.

Durante a Guerra Fria, este procedimento começou a ser abandonado, já que o exército norte-americano queria ter as suas armas nucleares prontas no imediato no caso de um ataque. Por causa disto, era preciso criar novos métodos de segurança.

“Em vez disto, os interruptores e outros componentes eram usados para isolar o material nuclear da energia precisa para se causar a detonação”, explica Jason M. Weaver, engenheiro dos Laboratórios Nacionais de Sandia.

Foi no final das décadas de 60 e 70 que os Estados Unidos começaram seriamente a preocupar-se com a segurança das armas nucleares e avançaram com a política ENDS — Enhanced Nuclear Detonation Safety — que definia os pilares do isolamento, incompatibilidade e inoperabilidade das armas, com a criação de barreiras que só podiam ser abertas por pessoal treinado entre os componentes explosivos e os componentes nucleares das bombas.

Até agora, os sistemas de segurança têm-nos salvo de várias catástrofes e resta-nos esperar que estes procedimentos continuem a garantir que nenhuma bomba detona, mas tal como dizia o vencedor de Nobel e membro do projecto de Manhattan: “Quando se joga a roleta russa, o facto de se ter escapado ao primeiro disparo em segurança é pouco confortante no seguinte”.

Adriana Peixoto, ZAP //

2 Comments

  1. Um dos acidentes referidos ocorreu no sul de Espanha.. provocou contaminação radioativa no local. A existência deste tipo de armas coloca em risco toda a humanidade. Seria interessante referir o “Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares” aprovado em 2017 nas Nações Unidas.

  2. “Os materiais explosivos detonaram, o que destruiu a arma e criou uma cratera com 7,6 metros de diâmetro e 3,6 metros de profundidade”.
    Mas numa bomba A a sua estrutura básica baseia-se em duas quantidades de material cindível separados. A sua junção atinge a massa crítica e a consequente explosão nuclear. Quando se pretende fazer a ignição, uma das quantidades é impelida contra a outra através de um explosivo clássico. Depreendo que os explosivos referidos não são os que referi, mas os de algum sistema de autodestruição.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.