Bolsonaro diz-se perseguido pela Globo. E a questão do jornalista ameaçado ecoa pelas redes sociais

Abir Sultan / EPA

Jair Bolsonaro

O Presidente brasileiro, que no domingo ameaçou um jornalista depois de este o ter questionado sobre depósitos não justificados na conta bancária da sua mulher, afirmou sentir-se perseguido pela Globo.

“O sistema Globo está a perseguir-me há pelo menos 10 anos sem provar nada”, escreveu o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, na sua conta do Twitter, acrescentando que aguarda “explicações da família Marinho” (dona da Rede Globo) sobre denúncias do ‘doleiro’ Darío Messer, condenado a 13 anos de prisão, na semana passada, por evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

‘Doleiro’ é a designação dada a quem efetua câmbios de moeda em mercados paralelos.

Bolsonaro referia-se a uma reportagem publicada pela revista Veja sobre um acordo de colaboração judicial firmado por Messer, ainda mantido em sigilo judicial, no qual o detido terá dito que realizou operações irregulares de câmbio para a família Marinho.

No entanto, a própria publicação esclareceu que, de acordo com as informações que obteve, Messer não apresentou qualquer prova de um suposto negócio com os donos da Rede Globo. Estes negaram veementemente, através das suas redes de comunicação, qualquer relação com o ‘doleiro’.

O chefe de Estado atacou a Globo um dia depois de se ter irritado publicamente com um repórter deste grupo que lhe perguntou sobre um escândalo que envolve a sua mulher, Michelle Bolsonaro.

“A vontade que tenho é de encher a sua boca de porrada“, disse o Presidente ao jornalista, durante uma visita a uma pequena feira de artesanato em frente à Catedral de Brasília.

De acordo com denúncias publicadas nos últimos dias por diferentes meios de comunicação social do Brasil, o ex-assessor da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz, fez, entre 2011 e 2016, cerca de 20 depósitos na conta da primeira-dama no valor total de 89 mil reais (cerca de 13,3 mil euros).

Queiroz está atualmente detido em casa, no âmbito de uma investigação que também envolve o filho mais velho do Presidente brasileiro, Flávio Bolsonaro, acusado de desvio de recursos públicos quando exercia o mandato de deputado estadual do Rio de Janeiro.

“Porque é que a sua esposa recebeu 89 mil reais?”

Nas redes sociais, uma mensagem rapidamente se tornou viral repetindo a pergunta a que o Presidente não respondeu: “Presidente Jair Bolsonaro: Porque é que a sua esposa, Michelle, recebeu 89 mil reais de Fabrício Queiroz?”.

Entre os utilizadores que questionam o chefe de Estado estão dezenas de figuras públicas, como políticos de partidos da oposição, entre eles Marello Freixo (PSOL) e Randolfe Rodrigues (Rede Sustentabilidade), e artistas brasileiros como, por exemplo, o músico Caetano Veloso.

Os ataques de Bolsonaro à imprensa são recorrentes desde que assumiu o poder, em janeiro de 2019, e têm como alvo, em particular, o Grupo Globo. O governante chegou a ameaçar não renovar a concessão do sinal de televisão do grupo quando expirar, em 2022.

A organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou, nos últimos meses, o elevado número de ataques feitos por Bolsonaro aos meios de comunicação e à liberdade de imprensa.

De acordo com um estudo da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), os ataques a jornalistas no Brasil, incluindo assassínios, agressões e ameaças, saltaram 54,07% no ano passado, de 135 casos, em 2018, para 208 casos, em 2019.

A Fenaj registou, pelo menos, 121 declarações públicas feitas por Bolsonaro no ano passado nas quais atacou ou desacreditou jornalistas ou veículos de comunicação social do país.

ZAP // Lusa

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