“Bola de Neve Cósmica”. O cometa dos Neandertais está de volta, 50 mil anos depois

Dan Bartlett / Astrobin

O cometa C/2022 E3 (ZTF) observado a 16 de outubro de 2022

O cometa C/2022 E3 (ZTF), habitualmente descrito como uma “bola de neve cósmica”, vai nas próximas semanas passar pela Terra —  50.000 anos depois da sua última visita.

Se olhar para os céus entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, é provável que consiga observar um cometa que foi visto pela última vez quando so Neandertais caminhavam sobre a Terra.

O invulgar cometa C/2022 E3 (ZTF), descoberto em março de 2022 por astrónomos do Zwicky Transient Facility, tem uma órbita à volta do Sol estimada em 50 mil anos — ou seja, passou por cá pela última vez no fim do Paleolítico.

O ponto de maior aproximação desta “bola de neve cósmica”, como é por vezes tratado, acontecerá a 1 de fevereiro — quase um ano após a sua descoberta.

Com uma cor esverdeada e uma cauda de poeira amarelada, o cometa está atualmente a cerca de 180 milhões de quilómetros da Terra, tendo ainda uma longa jornada a percorrer até poder ser visto a olho nu.

Antes de se tornar visível se a ajuda de um telescópio, o cometa vai ainda dar a volta ao Sol, encaminhando-se então para a vizinhança da Terra.

Segundo os astrónomos do ZTF, este é o primeiro cometa que pode ser visto a olho nu desde a passagem do NEOWISE, que passou pela Terra há dois anos, em julho de 2020 — e só volta daqui a 7.000.

Mas enquanto o NEOWISE deixou para trás uma longa cauda enevoada no céu, é provável que o C/2022 E3 (ZTF) apareça aos nossos olhos como uma faixa acinzentada no céu noturno.

Tania de Sales Marques, astrónoma do Observatório Real de Greenwich, no Reino Unido, explicou à Newsweek que é bastante difícil prever o brilho dos cometas.

“No entanto, observadores em todo o mundo têm acompanhado o C/2022 E3 (ZTF) desde que foi descoberto, e a previsão atual é que possa atingir uma magnitude de +6 — o limite do que o olho nu pode ver — ou até um pouco mais brilhante, na sua maior aproximação à terra”, detalhou.

Ao medir o brilho de objetos astronómicos, quanto mais brilhante for um determinado objeto, menor será a sua magnitude. Por exemplo, um objeto com magnitude +2 é mais brilhante do que outro com magnitude +8.

“O cometa está a viajar na direção aproximada de Polaris, a Estrela do Norte, onde o poderemos encontrar no início de fevereiro. Até então, deve ser visível durante a noite”, explicou a astrónoma, filha de pai macaense e mãe portuguesa.

(cv) Royal Observatory Greenwich

Tania de Sales Marques, astrónoma do Observatório Real de Greenwich, no Reino Unido

Robert Massey, vice-diretor executivo da Royal Astronomical Society do Reino Unido, aconselha os curiosos que queiram observador o cometa a procurá-lo numa noite clara, a partir de um local escuro — situação em que o corpo celeste será mais fácil de encontrar.

Os binóculos são ideais para os iniciantes à procura de um cometa, pois são fáceis de usar, enquanto um telescópio tem um campo de visão muito menor. Mas quem não puder usar binóculos, poderá encontrá-lo a olho nu.”

Recebido por homo neanderthalensis há 50 mil anos e por homo sapiens em 2023, a “bola de neve cósmica” volta à Terra daqui a outros tantos milhares de anos. Resta saber que espécie humana, se alguma, cá estará para o receber.

Armando Batista, ZAP //

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