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“Nenhum país jamais alcançou algo parecido”. Biden elogia operação de retirada de tropas (e deixa aviso)

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Michael Reynolds / EPA

Joe Biden, presidente dos EUA

O presidente norte-americano, Joe Biden, defendeu que a operação de retirada de norte-americanos e aliados do Afeganistão – que ocorreu ao longo do dia de ontem – foi um “sucesso extraordinário” por acabar com uma guerra que durava há 20 anos.

Em conferência de imprensa na Casa Branca, em Washington, Joe Biden, Presidente dos EUA, sublinhou que “nenhum país jamais alcançou algo parecido na história. O extraordinário sucesso desta missão deve-se ao incrível talento, bravura e coragem altruísta dos militares dos Estados Unidos [da América], os nossos diplomatas e os nossos profissionais de informações”.

Biden garantiu ainda que o país está determinado em retirar os entre 100 e 200 norte-americanos que permanecem no Afeganistão.

Segundo os últimos números, cerca de 114.000 pessoas foram retiradas de Cabul, desde a tomada da cidade pelos talibãs, em cerca de 2.900 em voos militares ou da coligação internacional.

Marcando o fim do que chamou uma “era de grandes operações militares” dos EUA para refazer outros países, o chefe de Estado admitiu que os EUA precisam de “mudar de estratégia”, porque “o mundo está a mudar”.

No discurso na Casa Branca, o presidente norte-americano explicou que os EUA não tinham outra escolha a não ser a retirada, depois do acordo assinado pelo seu antecessor Donald Trump com os talibãs.

Também pesou na decisão a crença de que as forças afegãs teriam capacidades para conter a ofensiva dos taliban e que o Governo afegão se mantivesse no poder durante mais tempo. “Estávamos errados”, reconheceu, ao mesmo tempo demonstrando o seu apoio ao povo afegão.

Eu assumo a responsabilidade por esta decisão. […] Tínhamos apenas uma escolha simples. Ou seguir o compromisso assumido pelo governo anterior e deixar o Afeganistão, ou dizer que não íamos embora e enviar dezenas de milhares de soldados para a guerra”, disse.

De acordo com Joe Biden, a “verdadeira escolha era entre sair ou escalar [o conflito]”, acrescentando que não iria prolongar eternamente a guerra e a retirada das pessoas do Afeganistão.

“Depois de 20 anos de guerra no Afeganistão, recusei-me a enviar outra geração de filhos e filhas da América para lutar numa guerra que deveria ter terminado há muito tempo”, sustentou.

Dando por concluída a guerra em território afegão, Biden aproveitou para alertar, durante o seu discurso, que os EUA ainda não destruíram a ala afegã dos jihadistas do Estado Islâmico (ISIS-K).

“ISIS-K: não acabámos convosco”, exclamou o presidente norte-americano.

Para Joe Biden, a melhor maneira de proteger a segurança dos EUA “é através de uma estratégia forte, implacável, focada e precisa, que persegue o terror onde se encontra hoje”, onde não estava há duas décadas.

O presidente dos EUA reiterou que o fim da presença militar no Afeganistão é o melhor para os futuros interesses do país.

“Dou-vos a minha palavra, do fundo do coração. Não tenho dúvidas que esta é a decisão certa, uma decisão sábia e a melhor decisão para a América”, realçou.

“Temos de nos concentrar nos desafios atuais”

No seu discurso, o presidente também frisou que foi alvo de algumas pressões: “Houve muita gente a dizer que devíamos ter ficado lá. É óbvio, esses não estariam lá. A todos os que apelam a uma terceira década de guerra, pergunto qual é o vital interesse nacional? A Al-Qaeda foi dizimada. Não temos vital interesse no Afeganistão além daquele que levou à intervenção em 2001”, disse Joe Biden.

Para o democrata, a sua principal missão enquanto Presidente passa por “defender e proteger os Estados Unidos de 2021 e não de 2001”, acrescentando que quer agora focar-se noutros campos de atuação. “Temos de nos concentrar nos desafios atuais, como a competição com a China e a Rússia e no combate aos ciberataques”, frisou o líder, citado pela CNBC.

Anthony Zurcher, repórter da BBC nos EUA, realça, numa coluna de opinião, que várias pesquisas mostram que os norte-americanos apoiam a retirada dos EUA do Afeganistão, embora muitos estejam insatisfeitos com a forma como Biden coordenou a saída das tropas.

Ainda assim, o jornalista reforça que os funcionários da Casa Branca mostram-se esperançosos, de que com o passar do tempo, a nação se mostre grata pela operação que o Presidente realizou e esqueça a forma como tudo terminou.

Durante a guerra, cerca de 2.500 militares americanos morreram. Os confrontos também custaram a vida a mais de 100.000 soldados, policiais e civis afegãos.

A nível financeiro, as guerras no Afeganistão, Iraque e Síria custaram aos contribuintes norte-americanos mais de 1,57 biliões de dólares desde 11 de setembro de 2001, de acordo com um relatório do Departamento de Defesa, a que a CNBC teve acesso.

Atualmente, os EUA deixam, novamente, o Afeganistão nas mãos dos talibãs, cujo primeiro regime (1996-2001) tinham derrubado em dezembro de 2001, quando o grupo extremista se recusou a entregar o então líder da Al-Qaida, Osama bin Laden.

A retirada das forças internacionais foi negociada com os talibãs, em fevereiro de 2020, e ocorre 15 dias depois de o movimento rebelde ter conquistado Cabul, depondo o Presidente Ashraf Ghani.

Com a capital afegã controlada pelos talibãs, a operação foi marcada pelo desespero de milhares de afegãos a querer fugir do país e por ataques do grupo extremista Estado Islâmico, incluindo um atentado bombista que matou cerca de 200 pessoas.

No dia de ontem, os talibãs asseguraram o controlo total do aeroporto internacional de Cabul e falaram de uma “lição” para o mundo, após o último avião norte-americano ter descolado, marcando o fim da guerra mais longa dos Estados Unidos.

Os líderes do movimento extremista islâmico caminharam simbolicamente através da pista, assinalando a vitória, flanqueados por combatentes da unidade de elite dos rebeldes Badri.

Ana Isabel Moura, ZAP // Lusa

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14 Comments

  1. É verdade, nenhum país teve uma retirada tão desumana, negociou com terroristas e deixou cidadãos Americanos no local.

    Desconheço em que realidade Biden vive; parece-me uma “twilight zone.”

    (Isto sem aprofundar muito sobre o desrespeito que recebeu os soldados que faleceram)

  2. Agora os talibãs do afeganistão vão-se associar ao irão, ao iraque e outros que por ali existem e que são radicais e fundamentalistas e vai ser a merda.

  3. O que não nos dizem nos media sobre o Afeganistão:
    #1 Trump tinha um plano formulado para a retirada organizada em Maio 2021 a partir de dois aeroportos, para retirada dos militares e equipamentos. A administração Biden rasgou o plano, prolongou a ocupação, dando força aos talibãs que encontraram apoio em vários líderes tribais e facilitando a ‘reconquista’. Restou aos EUA e demais aliados fugir vergonhosamente e de forma caótica;
    #2 os EUA deixaram para trás vários cidadãos americanos no Afeganistão, bem como largas dezenas de cães do exército, que por esta hora já devem ter sido abatidos;
    #3 com esta retirada caótica, os EUA deixaram para trás equipamento no valor de dezenas de biliões de euros, incluindo: dezenas de milhares de armas de fogo e munições; milhares de veículos; largas dezenas de helicópteros topo de gama; dezenas de aviões; centenas de tanques de combate; drones; milhares de equipamentos de proteção individual; equipamentos de visão nocturna; etc.;
    #4 com o abandono destes equipamentos, os talibãs possuem agora um exército mais bem equipado que 85% dos países do mundo;
    #5 tem ocorrido uma chacina no Afeganistão, com pelotões de fuzilamento a ‘tratar’ dezenas de cidadãos de cada vez (já testemunhei vários vídeos);
    #6 perante este ‘sucesso extraordinário’, e 20 anos de guerra e sofrimento pelo esgoto, os media e líderes mundiais querem agora passar a imagem de que tudo acabou bem, e que os talibãs vão cumprir as promessas de direitos humanos e das mulheres (treta!);
    #7 nem vou aprofundar as questões de nova vaga migratória, pois já antes desta grande trapalhada, os afegãos tentavam chegar em massa à Europa, tendo patrocinado vários dos ataques terroristas dos últimos anos;
    #8 fosse Trump nesta situação em vez de Biden, a cobertura mediática teria um teor bastante diferente;
    Infelizmente, os media não fazem o seu trabalho, e mais uma vez só se preocupam em construir uma narrativa em harmonia com a agenda globalista e altamente tendenciosa politicamente. Sacudam a areia dos olhos. A maioria dos grandes media são actualmente apenas meios de propaganda disfarçada, e os mais pequenos são apenas ecos dos maiores.

    • Como é comum nos “terra-planistas”, é muitíssimo provável que estejas a seguir os media errados…
      O plano executado é exactamente o plano de retirada do Trump – e, vindo de quem vem, “o resultado não desilude”!!
      O problema foi o Biden foi não ter tido o bom senso de rasgar esse plano e fazer tudo de novo!
      Isso já é preocupante mas, muito mais preocupante é constatar-se que as chefias da estrutura militar americana não foram capazes de fazer melhor do que esta vergonha/desgraça…
      .
      Felizmente existem os media para noticiar e assim todos comprovamos o que está a acontecer e o resultado dos 20 anos de guerra onde os EUA “derreteram” mais 2,2 biliões de dólares (mesmo biliões (12 zeros): >US$ 2.200.000.000.000 – “apenas” cerca de US$ 300.0000.0000 por dia!) e onde morreram quase 2500 soldados americanos…

  4. Tudo tem um preço, e tudo é calculado ao milímetro, seja de que parte for, eles estão todos juntos, contra o povo do mundo inteiro, apenas fazendo de conta que se interessam pelos simples mortais!

    Biden tem muitas razão no que escreve, 20 anos para estoirar biliões, matar muitas pessoas,e no final sair tudo na mesma, não ensinaram nem aprenderam nada, porque esse não era o objectivo, o tal “Game of Thrones”

  5. Estamos todos muito preocupados com os afegãos, mas estamos absolutamente borrifando para os azeri e outros da mesma região. Tal como tudo o resto vejo muita vontade de falar, mas pouca vontade de resolver.

  6. Borrou a escrita toda e ainda se gaba de ter feito bom serviço! O maior erro foi terem permanecido tanto tempo e deixarem a casa desarrumada acabando por sair à pressa e o país nas mãos do inimigo.

    • Mais uma vez, estamos de acordo!
      Tudo bem que o plano de retirada é do Trump, mas parece impossível nos EUA não haver alguém da administração Biden (e principalmente, do Pentágono) que não tenha percebido que isto ia dar me….
      É muita incompetência junta… e, os EUA são cada vez mais o oposto da imagem que “vendem”…

      • Esta retirada foi um fracasso total, mas o pior de todos os erros foi terem permanecido todo este tempo nesse país sem conseguirem deixar como garantia um exército local fiel e capaz de defender o país, isto demonstra por um lado que são maus observadores de com quem lidam, e por outro como deveriam ter tal dever ter-se-iam retirado muito antes percebendo que aquilo são culturas completamente antagónicas à cultura ocidental e que não se impinge mentalidades como quem bebe um copo de água.

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