Astrónomos encontram “berçários” das primeiras galáxias do Universo

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W. M. Keck Observatory / Adam Makarenko

Aglomerado de galáxias atua como lente gravitacional

Um poderoso telescópio aliado a uma pequena ajuda da natureza deu aos investigadores a oportunidade de espreitar “berçários” galácticos no coração do jovem Universo.

Após o Big Bang, há cerca de 13,8 mil milhões de anos, o Universo primitivo foi preenchido com enormes nuvens de gás neutro difuso, conhecidas como sistemas Damped Lyman-α (ou DLAs).

As DLAs serviram como “berçários” galácticos, uma vez que os gases se condensaram lentamente para alimentar a formação de estrelas e galáxias.

Ainda hoje podem ser observadas, mas não é fácil.

Usando uma lente gravitacional criada por uma galáxia relativamente próxima, astrónomos da North Carolina State University, nos Estados Unidos, estudaram duas enormes nuvens de gás, onde podem ter nascido as primeiras galáxias e estrelas do Universo.

Uma dessas nuvens foi “lentificada” por um objeto massivo mais próximo de nós.

Quando uma galáxia, por exemplo, está posicionada entre a Terra e um objeto luminoso mais distante, a luz desse objeto é ampliada e distorcida — como uma espécie de lente natural fornecida pelo Universo.

O fenómeno ocorre porque a massa da galáxia em primeiro plano distorce o espaço-tempo à sua volta. Assim, a luz do objeto mais afastado “escolhe” esse caminho distorcido para chegar até nós e, ao fazê-lo, vemos uma versão esticada e ampliada do objeto.

Graças a essa ampliação, os astrónomos conseguiram analisar cada pixel da imagem lentificada. Para adquirir as imagens, usaram um poderoso telescópio, enquanto que a análise dos dados foi realizada pelo método de espectroscopia de campo integral.

O método permitiu analisar o espetro de luz nos pixeis da imagem e, consequentemente, determinar os elementos químicos presentes nas nuvens DLAs.

“Esperei a maior parte da minha carreira por esta combinação: um telescópio e um instrumento suficientemente potentes, e a natureza a dar-nos um alinhamento sortudo para estudar não uma, mas duas DLAs de uma forma inédita e rica”, disse o investigador John O’Meara, citado no comunicado da universidade. “É ótimo ver a ciência a tornar-se realidade.”

O estudo, publicado recentemente na Nature, pode ser um grande passo para a comunidade científica compreender como se formaram as primeiras galáxias.

Além de as DLAs serem enormes, com diâmetros superiores a 56.723 anos-luz (a Via Láctea tem cerca de 105.700 anos-luz de diâmetro), foram detetadas galáxias no seu interior – o que reforça a teoria de que as nuvens são mesmo berçários galácticos – e as massas indicam que ainda possuem combustível suficiente para uma próxima geração de galáxias

ZAP //

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