BE tem “má memória” das maiorias, PCP mata a geringonça, Livre quer diálogo e PAN apela à reforma eleitoral

António Cotrim / Lusa

O Presidente da República já começou a receber os partidos em Belém para discutir os resultados das legislativas. Entre farpas ao Governo e apelos ao diálogo do PS, eis do que falaram BE, PCP, PAN e Livre.

Marcelo Rebelo de Sousa prometeu receber os partidos com assento parlamentar esta terça e quarta-feira para discutir os resultados eleitorais de domingo — e o prometido é devido.

O Presidente da República já recebeu ontem em Belém os representantes do Bloco de Esquerda, do PCP, do PAN e do Livre, que deixaram apelos ao diálogo do novo Governo maioritário do PS, nota o Expresso.

À saída do encontro, Catarina Martins lembrou a “má memória” que os portugueses têm das maiorias absolutas e sublinhou que a última foi também do PS.

A coordenadora do Bloco de Esquerda garantiu que o partido, que teve uma enorme quebra nas legislativas do domingo, vai “cumprir o mandato” e continuar a “proteger o país da predação das elites económicas que têm ficado com os nossos recursos”, às quais as maiorias absolutas são “permeáveis”.

O mau resultado das eleições suscitou também questões sobre a liderança do partido e o seu futuro, que Catarina Martins chutou para sábado, quando o Bloco reunir a sua Mesa Nacional, lembrando que esse não foi o tema que a levou a Belém.

Jerónimo de Sousa também recebeu questões sobre o seu futuro à frente do PCP, que foi um dos grandes derrotados da noite, a par do BE, mas também afirmou que “essa questão não está colocada”. Com franqueza, já encontrei dez formas diferentes de dizer a mesma coisa”, respondeu.

O líder comunista deu também a geringonça como morta e enterrada. Apesar do diálogo “no plano político e institucional” não estar em causa, a maioria absoluta do PS “naturalmente pode fechar possibilidades reais de convergência, em torno de matérias concretas”.

O PCP ressalvou ainda os temas que lhe são queridos, como os aumentos dos salários e das pensões e o reforço dos direitos laborais. “O povo português há de encontrar soluções, seja por intervenção, seja pela sua luta”, lembrou Jerónimo, que voltou a acusar o PS de causar as eleições não para “resolver problemas, mas para a maioria absoluta”.

Já Rui Tavares, que conseguiu recuperar a representação parlamentar para a esquerda verde europeia do Livre, garante que o partido vai continuar a combater a “crise ecológica e a crise social ao mesmo tempo”.

O deputado também lamentou o resultado das eleições, dizendo que a maioria absoluta do PS “não era desejável” e revelou que vai convidar o BE, PCP e PAN para reuniões em breve onde serão debatidos os temas da “proteção laboral” e da “proteção ambiental”.

“Tem que se saber se [Governo] vai ser fiel a essa ideia que deu antes de que uma maioria absoluta não seria um Governo ensimesmado, mas que funcionaria em diálogo com outros partidos“, afirmou ainda Rui Tavares,

Durante a campanha, Tavares já tinha deixado críticas à falta de entendimento à esquerda que levou à queda do Governo, e voltou agora a falar numa “fraqueza” que levou à “falta de articulação” e “contactos” entre o PS, BE, PCP e PAN.

Do lado do PAN, a única eleita foi Inês Sousa Real, que não pôde estar presente por estar em isolamento. Desta forma, a ex-líder parlamentar Bebiana Cunha substituiu a porta-voz do partido para deixar um apelo ao PS semelhante ao do Livre — que não deixe de conversar com os outros partidos, mesmo com a maioria no bolso.

“O que manifestamos foi a nossa preocupação que se prende com facto de as maiorias absolutas poderem ser prejudiciais para a democracia. Esperamos que o Governo esteja disponível para o diálogo e diálogo democrático”, apelou, lembrando as conquistas do PAN no OE relativamente à crise energética e ao acesso à habitação, que espera que o Governo “possa honrar”.

A antiga deputada trouxe ainda à discussão com o Presidente da República o atual sistema eleitoral, tendo pedido um “debate aberto” sobre esta matéria. “Mais de 700 mil votos não se traduziram em mandatos parlamentares. Recordamos que o PAN em termos percentuais foi prejudicado em 70%, se tivéssemos um círculo único, o PAN teria três deputados”, lembrou Bebiana Cunha.

A dirigente quer que haja uma reforma que reflita “a vontade dos portugueses”. “Houve quase 700.000 votos que, apesar de contribuírem para as subvenções dos partidos, não se traduzem em mandatos parlamentares”, reforçou.

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