Introduzir fezes no leite ajuda a desenvolver o microbioma intestinal, diz novo estudo.
Os bebés nascidos através de cesariana podem ter maiores riscos de desenvolver asma, inflamações no sistema digestivo e outras doenças derivadas de um sistema imunitário mais frágil, vão dizendo alguns estudos.
Existe mesmo quem defenda que este tipo de parto não permite que o bebé seja exposto aos micróbios vaginais e intestinais das mães, e que existe, portanto, mais vulnerabilidade dos bebés a agentes patogénicos nos hospitais.
Há experiências que tentaram compensar essas “falhas” de micróbios esfregando ou introduzindo por via oral micróbios vaginais nos bebés.
Ainda assim, conta à Nature Yan Shao, cientista do Wellcome Sanger Institute em Hinxton, Reino Unido, esta “sementeira vaginal” não tem tido um grande sucesso, já que não consegue colonizar o intestino dos recém-nascidos.
Este mês, no entanto, foi apresentado durante o encontro de especialistas em doenças infeciosas e epidemiologistas IDWeek, em Los Angeles, um novo estudo que pode ter encontrado a solução para este problema. Trata-se do primeiro teste científico controlado ao “batido de cocó”.
No teste, foram recrutadas mulheres que tinham marcado uma cesariana no Hospital Universitário de Helsínquia. Os investigadores misturaram no leite um líquido que continha 3,5 miligramas de cocó da mãe e deram a mistura ao recém-nascido. Fizeram-no com 15 bebés na primeira vez que estes mamaram. Outros 16 bebés receberam um placebo.
Inicialmente, a diferenças entre as amostras de fezes de todos os bebés não eram significativas. Mas foi após o segundo dia de vida e até ao seis meses de idade que se pôde verificar uma semelhança entre os bebés alimentados com o “batido de cocó” e aqueles que nascem através de parto vaginal.
Os bebés ainda estão sob observação, e o estudo vai continuar até que estes completem dois anos. Estes resultados são, portanto, relativos a uma primeira fase do estudo.
Shao garante que “não é surpreendente que o transplante de microbiota fecal materna fizesse a diferença na microbiota do bebé de cesariana”. Ainda assim, acrescenta, os microbiomas dos bebés de cesariana e os de parto natural não foram comparados, e seria necessário que o fossem para poder existir uma confirmação total da técnica.
O autor principal do estudo, Otto Helve, diretor do departamento de saúde pública do Instituto Finlandês de Saúde e Bem-Estar de Helsínquia, alerta também à Nature que “é preciso ter a certeza de que a matéria fecal que se dá ao recém-nascido não inclui agentes patogénicos que possam causar uma doença”.
Este fator, acrescenta, é bastante comum: 54 das 90 mulheres inicialmente selecionadas continham algum agente patogénico ou falha no rastreio que as impediu de participar na experiência.
Para Shao, o próximo passo a seguir seria identificar quais os micróbios intestinais maternos com mais probabilidade de colonizarem os bebés, para que seja um dia possível introduzir essas substâncias através de transplantes feitos em laboratório, mais seguros.
Por agora, o “batido de cocó” parece resultar, mas isto não é uma receita. Os cientistas alertam: não tente fazer isto em casa.