Navio romano que naufragou em Maiorca há 1700 anos está perfeitamente conservado (e inclui tesouros raros)

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Jose A Moya / Arqueomallornauta

O navio ficou encalhado a apenas dois metros de profundidade perto da costa e a areia protegeu a madeira e os materiais orgânicos do oxigénio. A equipa de arqueólogos quer organizar uma exposição aberta ao público.

Há cerca de 1700 anos, uma embarcação que carregava centenas de vasos de ânfora, azeitonas, óleo e garo (um molho feito com peixe fermentado) acabou por sucumbir perante uma enorme tempestade e naufragou perto de Maiorca.

O navio tinha partido do sudoeste de Espanha em direcção a Itália, mas foi rapidamente engolido pelas ondas. E se as histórias de naufrágios nos tempos do Império Romano — quando o Mar Mediterrâneo era palco das principais trocas comerciais da civilização — não são raras, mais raros são os casos de navios que são encontrados milhares de anos depois perfeitamente conservados.

Mas foi isso que aconteceu desta vez. O navio foi encontrado milagrosamente preservado e todos os seus tesouros ainda lá estavam, apesar do naufrágio estar apenas a dois metros de profundidade numa zona onde as praias são uma enorme atração turística, escreve o The Guardian.

Conhecido como Ses Fontanelles, o navio está agora a ser alvo de operação de recuperação dos seus tesouros, dirigida pelo Conselho de Maiorca e com uma equipa constituída por especialistas de três universidades espanholas.

Já foram retiradas 300 ânforas ainda com as pinturas originais e também um sapato de pele, um sapato de corda, uma panela, uma lâmpada a óleo e apenas a quarta furadeira de carpinteiro romana alguma vez encontrada na região.

Com 12 metros de comprimento e entre cinco e seis metros de largura, o navio emergiu há três anos depois de uma tempestade no Verão agitar as águas na baía.

O seu aparecimento confirmou as histórias dos mergulhadores que já datavam dos anos 50 e a descoberta levou a que o Conselho de Maiorca decidisse criar o projecto Arqueomallornauta.

“O objectivo é preservar tudo aqui e toda a informação que contém e isso não podia ter sido feito numa única intervenção de emergência”, revela Jaume Cardell, director de arqueologia do Conselho.

Após a intervenção de emergência inicial, a equipa ficou surpreendida com o seu estado de conservação, com a areia a proteger os materiais orgânicos do oxigénio. “As coisas estão tão perfeitamente preservadas que encontramos pedaços têxteis, um sapato de pele e uma alparcata”, revela o arqueólogo Miguel Ángel Cau.

A madeira está também practicamente nova e a descoberta das ânforas é ainda mais significativa por ser “quase impossível” encontrar-se vasos deste tipo que ainda têm as inscrições e que “ainda têm restos dos seus conteúdos”.

A equipa não encontrou vestígios de nenhum dos tripulantes, que provavelmente conseguiram fugir para a costa, mas os tesouros na embarcação indicam algo intrigante — que os tripulantes podem ter sido pagãos.

“A tripulação era provavelmente pagã, mas alguns dos produtos que traziam tinha símbolos cristãos. Temos de ter cuidado sobre como interpretamos isto — a carga pode ter sido de uma autoridade eclesiástica — mas temos essa co-existência entre pagãos e cristãos”, acrescenta.

Os arqueólogos querem ainda criar uma exposição do barco para a população o poder ver. “Este é uma daquelas descobertas em que estamos sempre a rir porque não conseguimos acreditar. É uma coisa que acontece uma vez em cada carreira académica. Nunca mais vamos encontrar algo como isto”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

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